O mais recente Boletim Focus, divulgado na segunda-feira, 28, traz uma informação pouco notada até o momento. Ela é a seguinte: para os agentes do mercado, a previsão de cotação do dólar caiu para 5,60 reais em 2025, contra os 5,70 reais apurados quatro semanas atrás. É uma diferença aparentemente pequena – de 10 centavos de real -, mas uma redução de 1,75% no espaço curto de um mês.
Deveria ser diferente? Imediatamente, para esta pergunta, vem o contexto.
Brasil e Estados Unidos estão em plena guerra comercial, um embate que se nada de diferente ocorrer, vai tratar de impor uma tarifa de 50% para todo e qualquer produto que o Brasil exportar para os Estados Unidos. Afinal de contas, esse movimento é normal quando o contrário seria o esperado?
Para William Castro Alves, estrategista-chefe e sócio da Avenue, uma plataforma para investimentos no exterior, o boletim do Banco Central é uma média de diversas projeções. E essas mudam conforme o teor das notícias. “Vamos combinar (que as notícias) têm sido bastante diversas e dispersas”.
Mercado está tomando risco
Mas fundamentalmente, o que ocorre na opinião de Castro Alves é que o mercado adotou neste momento uma postura considerada por ele “tomadora de risco”. Risco com uma boa dose de otimismo, principalmente fruto dos acordos comerciais definidos pela Casa Branca de Donald Trump, primeiro, com o Japão e a Indonésia, e mais recentemente, no último fim de semana, com a União Europeia.
Assim, no caso do câmbio, importa menos a situação do Brasil. Importa que o real, como menciona Castro Alves, é uma moeda com risco implícito na visão do investidor. “Então, em um momento que o mundo está mais tomador de risco, menos avesso ao risco, ele aceita comprar moeda da Colômbia, moeda da África do Sul e a moeda do Brasil”, indica.
O mercado na visão do estrategista da Avenue também estaria tentando antecipar que, apesar da briga entre Lula e Trump, um acordo em algum momento vai sair e isso vai acalmar o câmbio.
No último dia 23, quando portanto havia mais tempo para um acordo entre brasileiros e norte-americanos, o Bradesco emitiu um relatório em que indicava que a moeda norte-americana seria cotada a 5,50 reais no fim deste ano. Ou seja, o câmbio teria de ‘caminhar’ mais dez centavos de real.
O boletim do Banco Central ainda projeta dólar a 5,70 reais no próximo ano, mesmo patamar para 2027 e 2028 – embora projeções mais alongadas para o câmbio figuram muito mais no campo das apostas.