Em meio à polarização crescente nos Estados Unidos e a comoção pelo assassinato do ativista de direita Charlie Kirk, o presidente Donald Trump inicia nesta quarta-feira (17) uma visita de Estado ao Reino Unido.
A viagem, que inclui desfile em carruagens, banquete no Castelo de Windsor e encontros com a família real, é vista pelo governo britânico como uma chance de influenciar a Casa Branca em temas sensíveis de comércio e segurança transatlântica.
O roteiro, porém, acontece sob nuvens políticas e diplomáticas. O premiê Keir Starmer enfrenta desgaste após a demissão de Peter Mandelson, embaixador britânico em Washington, revelada dias antes do embarque de Trump.
A saída do diplomata ocorreu em meio a novas denúncias sobre sua ligação com Jeffrey Epstein, o financista condenado por crimes sexuais que também arrastou para o centro do escândalo o príncipe Andrew e, em diferentes momentos, o próprio Trump.
Pomp and circumstance
O Palácio de Buckingham aposta na encenação real para blindar o visitante de crises externas. Charles III e a rainha Camilla vão recepcionar o casal presidencial com salva de canhões, desfile da guarda e sobrevoo de caças F-35 e da esquadrilha Red Arrows.
O almoço oficial, uma cerimônia em memória da rainha Elizabeth II e o jantar de gala em Windsor devem garantir a Trump um cenário à prova de protestos.
Desta vez, Andrew ficará de fora da programação. O protagonismo caberá a William e Catherine, princesa de Gales, encarregados de acompanhar Melania Trump em encontros com jovens escoteiros.
Relações delicadas
A diplomacia britânica espera que o brilho real mantenha Trump focado no simbolismo da visita, ele é o único presidente eleito a receber um segundo convite para visita de Estado ao país.
O gesto foi entregue pessoalmente por Starmer em fevereiro, durante encontro no Salão Oval, e apresentado como “um feito inédito”.
Mas analistas alertam que a política externa continuará rondando os salões de Windsor. O presidente norte-americano chega pressionado pelo impasse nas guerras da Ucrânia e de Gaza, além de críticas internas à condução da economia.
Trump e Charles são quase contemporâneos, têm 79 e 76 anos, respectivamente, e compartilham interesse por arquitetura clássica.
Em 2019, quando ainda príncipe de Gales, Charles aproveitou encontro com Trump para falar longamente sobre mudanças climáticas, tema do qual o republicano sempre foi crítico.
O diálogo, segundo auxiliares, foi recebido com tolerância incomum pelo presidente.
Desde que assumiu o trono em 2022, Charles modera declarações sobre clima, mas segue exercendo “poder brando” em gestos simbólicos.
Em março, recebeu Volodimir Zelensky em Sandringham, apenas dois dias depois de o líder ucraniano ter sido repreendido por Trump na Casa Branca.
Enquanto Londres se prepara para as carruagens e as fanfarras, o clima nos EUA pesa sobre a visita. Marchas da extrema direita britânica já ecoaram o nome de Kirk, morto na semana passada, em protestos de rua.