Entre vinhedos de uva moscatel com mais de 40 anos, a vinícola uruguaia Bracco Bosca vai inaugurar o primeiro laboratório de vinhos do país. O Wine Lab, como será chamado, será um espaço para que visitantes criem seus próprios blends (ou “cortes”, como também são chamados), entendendo um pouco melhor como é o processo de produção de um vinho. Cada participante vai provar as variedades de uvas, como tannat, cabernet sauvignon, petit verdot e merlot, armazenadas em barricas ou ânforas, e criar a própria mistura. Ao fim, vão levar uma garrafa única, com rótulo próprio. “O conceito de luxo mudou muito nos últimos anos. Antes, significava ter carros ou relógios. Hoje, está mais ligado às experiências”, afirma Fabiana Bracco, diretora da vinícola e responsável por transformá-la em um dos principais nomes do vinho uruguaio. A previsão de inauguração é em novembro de 2025, para aproveitar a alta demanda dos turistas no final do ano.
O novo projeto reforça a vocação de enoturismo da vinícola – algo que nem sempre fez parte da rotina da Bracco Bosca. “Lembro exatamente do primeiro turista que recebemos. Foi um russo que chegou bem na hora que estávamos preparando um churrasco em família”, conta Fabiana. “Ele perguntou se fazíamos degustações e o convidamos a almoçar e beber conosco. Ele escreveu nossa primeira resenha no Google, elogiando muito. E por causa dela recebemos outros turistas, dois casais de americanos”, diz. Com o tempo, criaram um modelo mais estruturado para receber os visitantes.
Hoje, o turismo corresponde a uma parcela significativa do faturamento da vinícola. Além das degustações, há a opção de se hospedar em chalés instalados dentro da propriedade, com café da manhã servido em estilo piquenique. Embora a Bracco Bosca não tenha restaurante, é comum chamar um chef para preparar um churrasco e atender a grupos maiores. Cerca de 80% dos turistas são brasileiros, o que mostra a relação da vinícola com o público daqui.
Além do enoturismo, essa conexão é feita por meio do próprio vinho. Desde que assumiu a direção da vinícola, Fabiana fez com que a Bracco Bosca se tornasse uma das dez maiores a exportar para fora do Uruguai. O Brasil é um dos principais mercados, junto com Alemanha, México, Paraguai e Inglaterra, entre outros. Por aqui, os rótulos são importados pela Cantu e distribuídos em redes de empórios e mercados, além de restaurantes. “O vínculo com o público brasileiro é tão forte que a comunicação da vinícola nas redes sociais já ocorre majoritariamente em português”, conta ela. “Às vezes eu preciso lembrar as pessoas que falo espanhol também”, brinca.
O portfólio atual tem o clássico Tannat, tão associado ao país vizinho. Mas há surpresas, como o excelente Petit Verdot, que vem sendo reconhecido em importantes premiações internacionais, como o Guia Descorchados, e o moscatel seco – por aqui, a variedade é conhecida por ser usada na elaboração de espumantes doces. Também produz um ótimo clarete – um tinto bem leve, ideal para beber no verão. Por conta desse trabalho, a Bracco Bosca foi eleita Vinícola do Ano no Uruguai pelo Descorchados.