Ao menos seis pessoas foram presas em um protesto na noite de terça-feira 30 contra as políticas anti-imigração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em frente a um centro do ICE, a polícia de imigração americana, em Portland, Oregon. O incidente ocorreu poucos dias após o líder republicano autorizar o envio de 200 soldados da Guarda Nacional à cidade governada pelo Partido Democrata em meio à onda de manifestações, alegando a necessidade de proteger instalações do ICE de supostos “ataques da Antifa”.
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PORTLAND ICE PROTEST ERUPTS
What started peaceful turned tense Tuesday night as Border Patrol agents arrested at least 5 protesters outside the ICE facility.
Pepper balls fired from the roof
Helicopter circled for hours
Charges remain unclear… pic.twitter.com/MF9s5lVkKj
— Kristy Tallman (@KristyTallman) October 1, 2025
Versão do governo
Segundo a versão do governo Trump, o protesto terminou em confusão após “mais de 100 pessoas” invadirem o edifício federal em South Portland, iniciarem embates com a polícia federal e deixarem um agente ferido. Em comunicado emitido por Tricia McLaughlin, secretária adjunta de Assuntos Públicos do Departamento de Segurança Interna, os seis presos são acusados de agressão a policiais.
“Os heroicos policiais do Departamento de Segurança Interna continuam a resistir aos manifestantes violentos em Portland – mesmo com políticos radicais de esquerda mantendo seus salários como reféns”, afirmou McLaughlin, em referência à paralisação do governo federal que deixou funcionários sem remuneração.
O Partido Republicano culpa os democratas pelo “shutdown”, porque não apoiaram uma lei que estenderia o orçamento para financiar serviços públicos por mais alguns meses; os republicanos rejeitaram exigências para fechar um acordo.
“Esses ataques violentos a policiais são inaceitáveis. Não permitiremos que terroristas domésticos da Antifa nos detenham em nossa missão de tornar a América segura”, concluiu McLaughlin, ecoando a narrativa sustentada pelo governo Trump de que os manifestantes pertencem ao movimento de esquerda agora taxado como “terrorista” e de que Portland vive uma “anarquia”, arrasada pelo crime.
O outro lado
Testemunhas, porém, contam outra história. Repórteres da KATU, emissora afiliada à ABC na cidade da Costa Oeste, afirmaram que policiais federais não foram provocados quando dispararam “pepperballs” —projéteis de spray de pimenta — do telhado das instalações do ICE e confrontaram manifestantes nas ruas em frente ao edifício.
A KGW, outra emissora local afiliada à NBC, falou em um grupo de 40 pessoas, não “mais de 100”, e afirmou que não houve nenhuma invasão ao centro do ICE. Moradores locais entrevistados pela rede afirmaram que o protesto foi pacífico e que o clima estava tranquilo.
“Não vi ninguém arrombando o portão. Acho que a maior parte da confusão veio dos próprios agentes, quando eles saíram em uma van e começaram a avançar pela rua em direção às pessoas”, disse à KGW Adam Marshall, que mora perto do edifício e estava observado o protesto. “Honestamente, na maior parte do tempo, o clima estava bastante tranquilo e não tão caótico quanto dizem.”
Quanto ao policial ferido, uma ambulância foi vista no local, mas não se sabe sobre sua identidade ou estado de saúde. Nesta quinta-feira, 2, o Ministério Público dos Estados Unidos anunciou que uma mulher, Katherine Meagan Vogel, de 39 anos, foi formalmente acusada de agredir um policial federal no protesto de terça-feira. Ela também teria “pintado a entrada da garagem do ICE com tinta vermelha”, de acordo com um comunicado à imprensa.
Cerco a cidades democratas
O destacamento de militares em Portland veio em meio a crescentes ameaças de Trump contra cidades comandadas por democratas, como Chicago, Nova York, São Francisco e Baltimore. Desde que retornou à Casa Branca, em 20 de janeiro, ele ordenou o envio da Guarda Nacional para Los Angeles, em meio a uma onda de protestos contra suas políticas anti-imigração, bem como Memphis e Washington, D.C., onde seu governo diz haver, sem evidências, uma gigantesca onda de criminalidade.
Ao despachar soldados a Portland, governada por um prefeito do Partido Democrata desde os anos 1980, Trump afirmou que a cidade estava “devastada pela guerra” e alegou que as instalações ICE estavam “sitiadas por ataques da Antifa”.
Não há evidências de que os protestos tenham qualquer relação com o movimento, que é uma conglomeração de grupos de militâncias de esquerda que fazem oposição ao fascismo. E dados da cidade mostram que alguns dos crimes mais violentos, incluindo homicídios, caíram significativamente — homicídios em 39%, tráfico de pessoas em 26% e homicídios culposos em 75%. Roubos de veículos caíram 30%, vandalismos em 7% e arrombamentos em 5%. Outras categorias, porém, tiveram alta, como sequestros (50%) e crimes relacionados a drogas (226%).
Em meados deste mês, Trump advertiu que poderia declarar estado de emergência e enviar a Guarda Nacional novamente a D.C., caso as autoridades locais não cooperem com os agentes do ICE. A intervenção na capital expirou no início de setembro. Na Truth Social, ele acusou a prefeita de Washington, Muriel Bowser, uma democrata, de se recusar a colaborar com as políticas de imigração.
As tropas da Guarda Nacional chegaram a D.C em 12 de agosto, um dia após Trump colocar o departamento de polícia local sob controle federal e anunciar que enviaria soldados à capital americana com o objetivo de “restabelecer a lei e a ordem”. As acusações de que a cidade vivencia uma disparada de violência não são embasadas por dados.
Segundo o Departamento de Polícia Metropolitana de Washington, a criminalidade geral do distrito federal diminuiu 7% desde o ano passado, enquanto crimes violentos despencaram 26% e crimes contra a propriedade reduziram em 5%. Roubos de carros, por exemplo, caíram quase 50% em 2024 e seguem em queda este ano. A maioria dos detidos são adolescentes, e o governo federal discorda da forma como a cidade lida com a punição desses jovens.