Se a vida ilumina a obra de um autor, conhecer seu percurso pode fazer a diferença para entender como suas ideias brotaram e se consolidaram mundo afora. Sob essa perspectiva, aqui vão três indicações de livros que, cada um a seu modo, apresentam pensadores que ajudaram a moldar do campo do conhecimento à prática política no Ocidente.
Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres
Autor: Diógenes Laércio
Tradução: Vinícius Chichurra
Editora: Vozes
Páginas: 480
Este livro escrito por um autor grego do século III d.C. foi, durante toda uma era, a referência incontornável sobre os feitos e as obras dos principais pensadores gregos e romanos. Atravessou períodos históricos e ainda hoje é usado em pesquisas sobre filósofos de fama, como Platão e Aristóteles, mas também de figuras obscuras e agora pouco lembradas. Em textos mais longos ou sucintos, a depender da relevância do biografado, Diógenes Laércio traz um panorama da filosofia ocidental que começa em Tales e termina em Epicuro, oferecendo, pelo caminho, um resumo das ideias de grandes nomes como Sócrates e das escolas que fizeram história, como a dos estoicos. A nova edição da Vozes oferece tradução diretamente do original e a oportunidade de ler um manual dos clássicos que veio à lume há mais de um milênio.
Frantz Fanon
Autores: Frédéric Ciriez e Romain Lamy
Tradução: Maria Teresa Mhereb e Ana França Alvarenga
Editora: Veneta
Páginas: 248
No centenário do psiquiatra e pensador nascido na Martinica, a Veneta publica um belíssimo retrato em HQ de momentos cruciais na vida de Frantz Fanon (1925-1961). A obra acompanha o famoso encontro do médico, filósofo e ativista que redefiniu noções sobre racismo e luta anticolonial com outros dois luminares do pensamento ocidental, Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir. A reunião se dá em Roma, mas o pano de fundo são as discussões em torno da independência da Argélia, da qual Fanon participou efusivamente. Com projeto gráfico em capa dura de Gustavo Piqueira, o livro capta, com o apoio de inúmeras notas explicativas, momentos cruciais do autor de Os Condenados da Terra, que morreria precocemente, aos 36 anos, mas deixaria um legado vital para os movimentos negro e anticolonial.
Hegel: O Filósofo da Liberdade
Autor: Klaus Vieweg
Tradução: Marco Aurélio Werle, Nina Auras , Natália Acurcio Cardoso , Gustavo Torrecilha , Felipe Seelaender e Reginaldo Rodrigues Raposo
Editora: Edusp
Páginas: 728
O alemão Georg W. F. Hegel (1770-1831) está, provavelmente, na lista dos dez filósofos mais influentes do mundo ocidental. Erigiu um sistema de ideias e conceitos que conectam lógica, metafísica e ética, numa busca incessante para compreender como o conhecimento é construído e fundar uma autêntica ciência da filosofia, sem cair no dogmatismo nem no ceticismo. Encarar sua obra, que também se propõe a esmiuçar a cavalgada da história e foi influenciada por eventos como a Revolução Francesa e as guerras napoleônicas, exige fôlego e bússola. E é aí que a biografia escrita pelo professor Klaus Vieweg se mostra de extrema valia. Ao longo de mais de 700 páginas, o trabalho vertido para o português por um time da USP acompanha os episódios, os debates e os insights que marcaram o autor da Fenomenologia do Espírito. Com DNA mais acadêmico, o livro não se propõe a mastigar os conceitos hegelianos, mas nos auxilia a vislumbrar por que Hegel se tornou Hegel, um nome inescapável do cânone filosófico.
