A Polícia Civil de São Paulo apura se uma professora ligada ao PT cometeu crimes de perseguição, difamação, denunciação caluniosa e calúnia ao chamar o mandato do vereador paulistano Toninho Vespoli (PSOL) de “machista” e “misógino” por meio de publicações em redes sociais. A investigação começou a partir de representação feita pelo parlamentar contra a militante petista.
Nas últimas semanas, associações e grupos de esquerda publicaram notas para apoiar a docente em uma tentativa de fazer o vereador retirar a queixa. De acordo com documento encaminhado à polícia, os advogados de Vespoli citam que a professora Nelice Pompeu publica conteúdos falsos nas redes sociais “para atentar a honra do requerente”. “Em diversas ocasiões, a autora, em seus perfis de redes sociais e em grupos reservados, atribui ao peticionário (vereador) a condução de um mandato ‘misógino’ e ‘machista’”, citaram os defensores do parlamentar. Para VEJA, Vespoli afirmou ser perseguido há quatro anos, que não retirará a queixa “de jeito nenhum” e aguarda apuração dos fatos.

Na terça-feira, 22, a Secretaria Municipal de Mulheres do PT São Paulo publicou nota em defesa da docente. “Esse processo nos preocupa, pois abre um precedente perigoso: se uma mulher pode ser punida por reconhecer e nomear o machismo e a misoginia que enfrenta, todas nós corremos o risco de sermos silenciadas. Criminalizar a denúncia de atitudes machistas é enfraquecer a luta coletiva por uma sociedade antimachista, antirracista, igualitária e solidária”, diz trecho de nota.
Anteriormente, a professora havia feito denúncia contra um assessor de Vespoli por postagens contra ela nas redes sociais. De acordo com o inquérito policial, o funcionário do vereador assumiu ter feito as postagens contra a professora, mas sem ordens de Vespoli. “De sua própria convicção, fez as publicações contra a pessoa, com o propósito de tentar frear aquela postura dela no sentido de macular a imagem de Toninho. (…) Por fim, afirma o declarante que jamais agiu a pedido de Toninho ou qualquer outra pessoa, seu propósito foi tão somente de defender sua visão e preferência política.”
Procurada nesta quinta-feira, 23, a professora afirmou a VEJA que se sente intimidada pela investigação policial. “O que está acontecendo comigo pode acontecer com qualquer mulher que se recuse a se calar diante do machismo. Quando tentam nos punir por falar, tentam nos silenciar. Essa denúncia, infelizmente, abre precedentes gravíssimos e aumenta o risco de punir mulheres que denunciam o que sofreram. Não podemos aceitar a intimidação, a violência ou o abuso de poder como algo normal”, disse a docente.