O ministro do Interior da Venezuela, Diosdado Cabello, disse nesta sexta-feira, 12, que nenhum dos 11 tripulantes de um barco atacado pelos Estados Unidos pertencia ao cartel Tren de Aragua. Todos morreram na explosão no início deste mês. A declaração ocorre após a mídia americana noticiar que o navio tinha dado meia-volta e voltava à costa venezuelana quando foi alvejado. O governo de Donald Trump alega, sem provas, que a embarcação transportava drogas, mas é pressionado pelo Congresso dos EUA por explicações.
“Eles confessaram abertamente o assassinato de 11 pessoas”, disse Cabello, que também é líder do partido governista, à televisão estatal. “Fizemos nossas investigações aqui no país e há famílias de desaparecidos que querem seus parentes, e quando perguntamos nas cidades, nenhum era de Tren de Aragua, nenhum era traficante de drogas.”
“Um assassinato foi cometido contra um grupo de cidadãos usando força letal”, continuou ele. “Como os identificaram como membros do Trem de Aragua? Eles tinham, não sei, um chip? Eles tinham um código QR e (os militares americanos) o leram de cima, no escuro?”
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Críticas do Congresso
O incidente ocorreu em meio à escalada entre Venezuela e Estados Unidos, que enviou tropas ao Caribe em cerco ao narcotráfico. Em reunião no Capitólio dos EUA, sede do poder legislativo, autoridades de Segurança Nacional admitiram que o barco foi atacado várias vezes após mudar de curso, relataram duas pessoas familiarizadas com a situação, sob condição de anonimato, à agência de notícias Associated Press (AP). Senadores, tanto democratas quanto republicanos, questionam a legalidade da ação e enxergam um abuso de poder.
“Nossas Forças Armadas não são agências de aplicação da lei”, afirmou o senador Jack Reed, o principal democrata no Comitê de Serviços Armados do Senado, em discurso no plenário nesta semana. “Elas não têm autoridade para caçar suspeitos de crimes e matá-los sem julgamento.”
Ele salientou que o governo americano não forneceu “nenhuma prova de que esta embarcação estivesse envolvida em um ataque, ou mesmo de que estivesse envolvida em tráfico de drogas na época” ou “nenhuma identificação positiva de que a embarcação fosse venezuelana, nem de que sua tripulação fosse membro do Tren de Aragua ou de qualquer outro cartel”.
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Resposta da Casa Branca
Em resposta às críticas, a porta-voz da Casa Branca, Anna Kelly, alegou que os tripulantes “eram narcoterroristas malignos do Tren de Aragua tentando trazer drogas ilegais para o nosso país e matar americanos” e que o “presidente agiu de acordo com as leis de conflito armado”, acrescentando que Maduro é um “fugitivo” da Justiça dos Estados Unidos. O Pentágono endossou as ameaças e disse que gangues de narcotráfico não encontrarão “nenhum porto seguro” em qualquer lugar.
“Este ataque enviou uma mensagem clara: se vocês traficarem drogas em direção às nossas costas, os militares dos Estados Unidos usarão todas as ferramentas à disposição para detê-los”, advertiu o porta-voz do Departamento de Defesa dos EUA, Sean Parnell.
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Operação de ‘resistência’
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, lançou nesta quinta-feira, 11, uma operação militar “de resistência” em meio à escalada das tensões com os Estados Unidos. Ele disse que há 284 “frentes de batalha”, mas deu detalhes. O país, até o momento, não foi atacado. Em discurso televisionado, o líder do regime chavista afirmou que o “povo não está órfão”, advertindo: “Se tivermos que voltar a combater, combateremos pela liberdade de nossa grande pátria”.
“Toda força militar da nossa Força Armada Nacional Bolivariana e sua capacidade de fogo (está) ocupando posições, fixando posições, defendendo posições, fixando planos”, acrescentou Maduro.
Em uma comunidade perto de Caracas, o ditador também prometeu que “estes mares, esta terra, estes bairros, estas montanhas, estas imensidões e as riquezas destas terras pertencem ao povo da Venezuela, jamais pertencerão ao império norte-americano”. No último domingo, 7, Maduro ordenou o destacamento de 25 mil soldados para vários estados e para a fronteira com a Colômbia. O aumento do contingente militar se somou aos 15 mil soldados já mobilizados em agosto.
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Trump x Maduro
A Casa Branca acusa Maduro de liderar o Cartel de los Soles e oferece uma recompensa de US$ 50 milhões por informações que levem à captura do chefe do regime chavista. Ele não só violou as leis de narcóticos americanas e tomou o poder de forma não democrática na Venezuela, mas também tem ligações com grupos criminosos, como o Tren de Aragua e o Cartel de Sinaloa, e comanda o Cartel de los Soles “há mais de uma década”, segundo o governo americano.
Em declaração recente, a secretária de Justiça dos EUA, Pam Bondi, informou que foram apreendidos US$ 700 milhões em ativos ligados a Maduro. Em meio a trocas de farpas, o líder venezuelano mobilizou 4,5 milhões de milicianos chavistas em todo o país, apresentando a medida como uma estratégia de segurança. As acusações logo escalaram para uma movimentação militar americana em direção à Venezuela.
Os navios de guerra USS Gravely, USS Jason Dunham e USS Sampson atuam desde o mês passado na costa venezuelana, também patrulhada por aviões de vigilância. Eles são acompanhados pelo destróier USS Lake Erin, capaz de disparar 122 mísseis, e pelo submarino USS Newport News, com ataque de propulsão nuclear.
Três contratorpedeiros, do grupo Anfíbio de Prontidão (ARG, na sigla em inglês), voltaram à região no final de agosto, depois de terem sido forçados a retornar aos EUA devido ao furacão Erin. As embarcações americanas poderão ser usadas para diferentes finalidades, de operações de inteligência vigilante a ataques direcionados contra a terra firme, disse uma autoridade à Reuters sob condição de anonimato.
Em paralelo, o avião Poseidon P-8, da Marinha tem operado a partir de San Juan, em Porto Rico, e tem conduzido voos circulares nos arredores de Aruba, no norte da Venezuela, para localizar semissubmersíveis, comumente usados pelo narcotráfico para transportar drogas para o México. De lá, os entorpecentes seguem para os EUA. Um Boeing E-3 Sentry também foi localizado na região, sendo empregado para localizar alvos de interesse.