A líder da oposição da Venezuela, María Corina Machado, vencedora do Nobel da Paz 2025, prometeu levar o prêmio de volta para o seu país natal. A declaração foi realizada nesta quinta-feira, 11, após María Corina chegar a Oslo, na Noruega, para receber a honraria. Ela não aparecia em público desde janeiro, quando participou de um protesto em Caracas contra a vitória eleitoral autoproclamada do ditador Nicolás Maduro. Desde então, vive em esconderijo por ameaças à sua vida.
María Corina não conseguiu chegar à capital norueguesa para uma coletiva de imprensa na véspera, levantando dúvidas se conseguiria chegar ao local em meio às proibições de viagens impostas contra ela pelo regime chavista há uma década. Ela chegou a Oslo na quinta, com uma agenda lotada de eventos. A viagem ocorre em meio à escalada das tensões entre Estados Unidos e Venezuela, reflexo do envio de forças americanas para o Caribe e Pacífico em suposto cerco ao narcotráfico.
A opositora de Maduro ganhou o Nobel da Paz em outubro “por seu trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos do povo da Venezuela e por sua luta para alcançar uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia”. Na época, ela dedicou o prêmio ao presidente dos EUA, Donald Trump, que não escondeu o desejo de receber a láurea, pelo “apoio decisivo” à sua causa. Questionada se apoiaria um ataque americano à Venezuela, María Corina desconversou e citou invasões russas, iranianas e de cartéis de drogas ao país.
“Isso transformou a Venezuela no centro do crime nas Américas. E o que sustentou o regime foi um sistema de repressão muito poderoso e fortemente financiado”, apontou ao lado do primeiro-ministro da Noruega, Jonas Gahr Stoere. “De onde vêm esses fundos? Bem, do tráfico de drogas, do mercado negro de petróleo, do tráfico de armas e do tráfico de pessoas. Precisamos cortar esses fluxos.”
A engenheira de 58 anos cumprimentou dezenas de pessoas da varanda do Grand Hotel de Oslo, onde os laureados com o Prêmio Nobel tradicionalmente ficam hospedados, e cantou o hino venezuelano. Mais tarde, María Corina foi até a rua, escalou as barreiras de segurança e abraçou aqueles que se reuniam no frio para vê-la. Ela agradeceu aos homens e mulheres que arriscaram suas vidas para ajudá-la a sair da Venezuela, mas preferiu não dar detalhes sobre como conseguiu deixar o país.
“Um dia poderei contar, porque certamente não quero colocá-los em risco agora”, disse. “Foi uma experiência e tanto.”
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Quem é María Corina Machado?
Ao longo da carreira política, Machado denunciou sistematicamente as violações de direitos humanos, a corrupção e a deterioração das instituições democráticas na Venezuela. Ela fundou o partido Vente Venezuela em 2013, sigla de orientação liberal-econômica que se tornou sua principal plataforma política. Seu estilo confrontacional, a rejeição absoluta ao modelo socialista e sua recusa em negociar com o governo a diferenciaram de outros líderes da oposição mais moderados.
Diante da impossibilidade de concorrer às eleições no ano passado, ela usou sua capacidade de mobilizar milhões de venezuelanos, incluindo a diáspora, para apoiar a candidatura de Edmundo González Urrutia, mantendo seu papel de líder moral e estrategista da campanha da oposição. O regime declarou a vitória de Maduro, apesar de evidências contrárias e das amplas acusações de fraude.
Hoje, Machado é uma figura profundamente polarizadora na Venezuela. Para seus seguidores, ela representa a resistência incorruptível à ditadura, uma líder corajosa disposta a sacrificar tudo pela democracia. Seus opositores, por outro lado, apontam-na como representante da elite econômica desconectada das necessidades do povo e a acusam de promover posições políticas extremas.
O Nobel da Paz é concedido a pessoas ou organizações que tenham “realizado o maior ou o melhor trabalho em prol da fraternidade entre as nações, pela abolição ou redução de exércitos permanentes e pela realização e promoção de congressos de paz”, como indicou o fundador do troféu, Alfred Nobel, no seu testamento em novembro de 1825.