A pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro à Presidência da República foi definida em um cenário que sintetiza a trajetória política da família: a carceragem da Polícia Federal, como mostra reportagem de capa da revista desta semana. Foi ali, durante uma conversa entre pai e filho, que o ex-presidente Jair Bolsonaro bateu o martelo e deu o aval para que o primogênito assumisse o posto de representante do bolsonarismo em 2026. O tema foi debatido no programa Os Três Poderes desta sexta, 12 (este texto resume o vídeo acima).
Segundo relato publicado por VEJA e comentado no programa, Bolsonaro foi direto ao ponto. “Bicho, o nome tem que ser você e tem que ser agora. Vamos embora”, disse ao filho. A resposta de Flávio foi imediata: “Sim, senhor. Vamos embora”. O diálogo selou uma decisão aguardada havia meses por aliados do clã, mas que provocou desconforto e resistência em amplos setores da direita.
A candidatura de Flávio é mesmo para valer?
Durante entrevista concedida a VEJA, Flávio Bolsonaro fez questão de reforçar, ao longo de mais de uma hora de conversa, que sua candidatura é séria e não um movimento tático ou temporário. Segundo o editor José Benedito da Silva, essa insistência não foi casual. Desde o anúncio, a reação predominante entre partidos do Centrão e lideranças da direita não bolsonarista foi de ceticismo.
O senador tentou apresentar bandeiras e propostas, abordando temas como segurança pública, liberdade econômica e pautas morais, além de se diferenciar do pai ao se apresentar como uma versão mais moderada do bolsonarismo. Ainda assim, como observou José Benedito, em vários momentos o discurso de Flávio se aproxima do tom e da retórica de Jair Bolsonaro, o que reforça a dificuldade de dissociar a candidatura do legado do ex-presidente.
Por que a direita reagiu com desconfiança?
A recepção fria ao anúncio ficou evidente nas manifestações públicas e nos silêncios estratégicos. Logo após a confirmação da pré-candidatura, dirigentes de partidos do centrão divulgaram notas ressaltando que a polarização não seria o melhor caminho para o país, numa sinalização clara de resistência a um novo embate direto entre Bolsonaro e Lula, ainda que por meio de um herdeiro político.
Lideranças do Progressistas, do União Brasil e de outras siglas relevantes se posicionaram com cautela. Até mesmo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, demorou a se manifestar e só comentou o assunto quando pressionado por jornalistas, descrevendo Flávio como “mais um nome” entre outros possíveis candidatos.
O mercado também reagiu ao anúncio
A desconfiança não ficou restrita ao meio político. Segundo José Benedito, o mercado financeiro reagiu mal ao lançamento da pré-candidatura, com queda da bolsa e alta do dólar nos dias seguintes. Setores econômicos que viam em Tarcísio de Freitas uma alternativa mais palatável ficaram frustrados com a decisão do clã Bolsonaro, o que reforçou a percepção de que Flávio terá dificuldades para ampliar alianças fora da base bolsonarista.
Pesquisas recentes também alimentam o ceticismo. Em levantamentos citados no debate, Flávio aparece cerca de 15 pontos percentuais atrás do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que aumenta a pressão para que o senador demonstre viabilidade eleitoral ao longo dos próximos meses.
Como foi o bastidor final da escolha?
A decisão tomada na carceragem foi o desfecho de uma sequência de conversas entre pai e filho. Segundo Flávio, aquela foi a quarta vez em que Bolsonaro tratou diretamente do assunto. Nas visitas anteriores, o ex-presidente havia sugerido que o filho se preparasse para assumir a missão.
O encontro decisivo teve forte carga emocional. Flávio levou ao pai fotos dos netos, desenhos das crianças e uma carta escrita por Eduardo Bolsonaro. No texto, o deputado dizia estar bem e incentivava o pai a tomar uma decisão política. Foi nesse ambiente, marcado pela mistura de família, afeto e estratégia, que Jair Bolsonaro deu a palavra final e definiu o rumo do clã para a disputa presidencial.
A partir desse gesto, Flávio Bolsonaro passa a carregar não apenas o sobrenome, mas a responsabilidade de provar que sua candidatura vai além de um movimento interno da família — e que pode, de fato, se sustentar fora dos muros da carceragem onde nasceu.
VEJA+IA: Este texto resume um trecho do programa audiovisual Os Três Poderes (confira o vídeo acima). Conteúdo produzido com auxílio de inteligência artificial e supervisão humana.