A diversidade de vacinas oferecidas no Brasil — em grande parte pela rede pública — é grande. E ainda bem: são imunizantes que têm se mostrado eficazes na prevenção de doenças graves. O problema é que, em meio a tanta possibilidade, a confusão pode surgir, principalmente para grupos de risco que precisam de esquemas diferenciados, com doses extras, vacinas adicionais, intervalos específicos, e por aí vai.
Foi pensando nessa confusão – que envolve não só pacientes como até profissionais da saúde -, que a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) divulgou, nesta terça-feira, 16, os ‘Vaxcards’, uma série de cartões digitais com calendários vacinais adaptados para diferentes grupos. Ao todo, são nove versões: diabéticos, cardiopatas, pneumopatas, hepatopatas, nefropatas, esplenectomizados, idosos, viajantes e profissionais de saúde. Cada cartão traz, de forma resumida, quais vacinas são recomendadas, quais apresentam contraindicações, a periodicidade das doses e em quais situações pode ser indicado considerar reforços. A ideia é que o material seja ampliado; por enquanto, ele cobre os grupos considerados mais prioritários.
No card voltado para diabéticos, por exemplo, o “manual” começa explicando por que a vacinação é ainda mais importante nesse grupo. “Pessoas com Diabetes Mellitus têm maior risco de adquirir e apresentar quadros mais graves de doenças infecciosas. Além disso, infecções preveníveis por vacinas podem descompensar o quadro glicêmico e levar a diversas outras complicações”, escreve a SBI. O cartão detalha ainda quais vacinas são altamente recomendadas, quais pessoas devem ficar atentas às contraindicações, as idades para aplicação e onde encontrá-las (rede pública ou privada).
Para Rosana Richtmann, infectologista e coordenadora do comitê de imunizações da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), dois cartões merecem atenção especial: o dos esplenectomizados (quem retirou o baço ou tem falha funcional no órgão) e o dos idosos. “O baço é fundamental para a nossa proteção. Quando um paciente tem algum comprometimento relacionado a ele, é preciso cuidado redobrado com a imunização”, explica. Em relação aos idosos, ela lembra que se trata de um grupo cada vez mais numeroso no Brasil. “Por isso, considerar suas particularidades vacinais é mais que necessário. Talvez seja o card de maior impacto em termos de utilidade prática.”
Richtmann ressalta que a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) já realiza a tarefa de elaborar calendários vacinais – ela, inclusive, faz parte da comissão que produz o material. “A SBI entendeu que não fazia sentido criar um novo calendário paralelo. A ideia foi pensar em algo complementar, mais direto, e na ‘palma da mão’, inclusive para facilitar orientações em consultas.”
Queda dos índices vacinais
Esmiuçar esses detalhes também é uma forma de enfrentar a queda dos índices de vacinação no país. Há alguns anos, o Brasil era referência mundial e o Zé Gotinha simbolizava o esforço coletivo em torno da imunização. Hoje, apesar de sinais de recuperação, diferenças entre estados e municípios e esquemas incompletos ainda representam desafios.
Segundo o Anuário VacinaBR, produzido pelo Instituto Questão de Ciência (IQC) em parceria com a Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim) e o Unicef, em 2023 nenhuma vacina infantil do calendário nacional atingiu a meta de cobertura em todos os estados.
“Esse material também é um posicionamento. Uma forma da SBI ressaltar, de forma indireta, a importância da vacinação, especialmente para os grupos de risco. Para eles, a imunização não só deve ser incentivada, como prescrita”, opina Richtmann.
Para acessar o Vaxcards, clique aqui.