Quando a pandemia de covid-19 começou, a gravidez rapidamente passou a figurar entre as situações que exigiam atenção redobrada. O vírus era novo, as evidências ainda engatinhavam e muitas perguntas ficaram sem resposta — entre elas, o quanto a vacinação poderia proteger gestantes e bebês. Agora, um estudo canadense vem para reforçar o que sociedades médicas e entidades internacionais já vem falando há um tempo: o imunizante contra o coronavírus realmente faz diferença durante a gestação.
Para a análise, os pesquisadores incluíram apenas mulheres com diagnóstico confirmado de covid-19 durante a gestação e classificaram as participantes de acordo com o status vacinal no momento da infecção: não vacinadas, vacinadas antes da gravidez ou vacinadas já durante a gestação.
Além disso, o períodos de circulação das variantes Delta e Ômicron foram analisados separadamente, permitindo comparar o efeito da vacinação em cenários epidemiológicos diferentes. Os dados foram divulgados no JAMA, um dos principais periódicos de divulgação científica no mundo.
Menos hospitalização, menos UTI
Entre quase 20 mil gestantes incluídas na análise, 72% haviam sido vacinadas antes do diagnóstico de covid-19. O efeito protetor apareceu de forma semelhante tanto no período da variante Delta quanto no da Ômicron.
Na prática, isso significou uma redução significativa do risco de hospitalização materna. Durante a onda da Delta, gestantes vacinadas tiveram cerca de 60% menos risco de serem internadas por covid. Na fase da Ômicron, a proteção foi praticamente a mesma. O impacto foi ainda mais evidente quando o desfecho analisado foi a entrada em unidade de terapia intensiva: o risco caiu em torno de 90% entre as vacinadas, independentemente da variante em circulação.
Quando os pesquisadores ajustaram os dados para fatores como idade e presença de comorbidades, para checar se esses fatores estariam influenciando os resultados, os achados se mantiveram. No período da Ômicron, gestantes não vacinadas tiveram um risco mais que duas vezes maior de hospitalização em comparação com as vacinadas. Na fase da Delta, esse risco foi quase quatro vezes maior.
Proteção que também chega ao parto
A vacinação também esteve associada à redução do risco de parto prematuro. Entre as mulheres infectadas durante a gravidez, aquelas que haviam recebido o imunizante apresentaram menos partos antes do tempo esperado, tanto durante a circulação da variante Delta quanto da Ômicron.
Durante a onda da Delta, a vacinação esteve associada a uma redução de cerca de 20% no risco de parto prematuro. Já no período da Ômicron, essa redução foi mais expressiva, em torno de 36%.
Antes ou durante a gravidez, o benefício permanece
Outro achado relevante do estudo é que o efeito protetor da vacinação foi observado tanto entre mulheres que haviam se vacinado antes de engravidar quanto entre aquelas que receberam o imunizante já durante a gestação. Aproximadamente 80% das gestantes vacinadas haviam completado o esquema antes da gravidez, enquanto cerca de 20% foram imunizadas nesse período. Em ambos os grupos, a proteção contra desfechos graves se manteve.
“Nossos resultados fornecem evidências claras, em nível populacional, de que a vacinação contra a covid-19 protege gestantes e seus bebês de complicações graves”, afirma Deborah Money, professora de obstetrícia e ginecologia da University of British Columbia (UBC) e autora sênior do estudo. “Nunca é um mau momento para se vacinar, esteja você grávida ou planejando uma gravidez.”
Os autores destacam que os resultados ganham relevância em um momento de revisão e atualização das diretrizes de vacinação para gestantes em diferentes países. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Comitê Consultivo sobre Práticas de Imunização (ACIP) não incluiu recentemente uma recomendação específica para a vacinação contra a covid-19 durante a gravidez no calendário adulto. Já no Canadá e nas orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), a vacinação de gestantes segue sendo recomendada.
Para os pesquisadores, os dados oferecem subsídios importantes para o debate público e para a tomada de decisão clínica. “As evidências são extremamente claras: a vacinação contra a covid-19 é segura e eficaz durante a gravidez”, reforça Money. “Essas descobertas fornecem informações cruciais para gestantes e profissionais de saúde e fortalecem as recomendações de saúde pública.”