Único judeu entre os políticos brasileiros que estavam em Israel durante os bombardeios da última semana, Flavio Valle (PSD-RJ) compartilhou com VEJA detalhes da experiência marcada por tensão, responsabilidade e críticas que, segundo ele, têm fundo antissemita. Esta foi sua quarta visita ao país.
Em seu primeiro mandato na Câmara Municipal do Rio, Valle integrou uma comitiva destinada a estreitar laços institucionais e conhecer políticas públicas israelenses. A viagem foi financiada, segundo ele, pelo governo de Israel, o que não impediu questionamentos sobre o possível uso de recursos públicos. “Mesmo que fosse dinheiro público brasileiro, não haveria problema. Essas críticas, muitas vezes, são antissemitismo velado. Há uma enorme ignorância sobre a história de Israel”, declarou.
O vereador criticou o silêncio do Itamaraty nos três dias que se seguiram ao início dos bombardeios em Tel Aviv, onde a delegação estava. A primeira bomba caiu na sexta-feira, mas o grupo só recebeu contato oficial no domingo. “A comunicação foi boa a partir desse momento”, disse. No entanto, Valle destacou o que considera um problema mais grave: “É muito frustrante sair de um país sob ataque direcionado a civis e ouvir o presidente do Brasil dizer que antissemitismo é vitimismo. Condenam Israel, mas ignoram o Irã.”
A viagem também foi alvo de intensas críticas nas redes sociais. Muitos brasileiros apontaram que a ida ao país durante um conflito armado soava como um alinhamento com a política do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Valle rebateu: “É saudável criticar o governo dele, e faço isso. Mas associar o apoio a Israel ao apoio à guerra é ignorância. Dizer isso é o mesmo que afirmar que não se deve vir ao Brasil porque Lula apoia Hugo Chávez.”

Apesar das noites mal dormidas e das constantes idas aos bunkers – em alguns dias, até sete vezes –, Valle afirmou que queria permanecer até o final do programa, mesmo enfrentando riscos. “Eu estava lá como o único representante judeu. Tenho uma responsabilidade gigante. Eu chorava todos os dias. Não por medo, mas por ver Israel sendo atacado. Cada bomba tocava meu coração”, desabafa.