Em 1681, o rei Luís XIV (1638-1715), o célebre Rei Sol, encomendou a construção do Le Grand Contrôle, um pequeno palácio destinado ao Controlador-Geral das Finanças, o homem mais poderoso depois do próprio rei. O edifício foi projetado por Jules Hardouin-Mansart (1646–1708), o mesmo arquiteto responsável pela famosa Galeria dos Espelhos. Mais de 300 anos depois, o prédio foi restaurado e transformado pela rede de hotéis Airelles em uma experiência hoteleira única, desde a decoração dos quartos até às experiências gastronômicas e culturais.
Mesmo após a Revolução Francesa de 1789, o imaginário dessa época de luxo e opulência aristocrática continuou a fascinar o mundo — do filme Ligações Perigosas (1988), baseado no romance de 1782, ao sucesso de Maria Antonieta (2006), dirigido por Sofia Coppola e filmado no próprio Palácio de Versalhes. Em 2025, esse interesse prosseguiu e com a exposição dedicada a Maria Antonieta no Victoria & Albert Museum, em Londres, um projeto que levou cerca de oito anos para ser realizado. É nesse contexto que o Airelles em Versalhes se destaca, propondo um conceito de hotelaria que vai além dos padrões dos hotéis cinco estrelas ao transportar o hóspede para um ambiente histórico e cultural.
Ao chegar ao hotel, o hóspede é recebido por um membro da equipe vestido com trajes típicos da época. Ao atravessar a porta, encontram-se quadros, candelabros com luzes semelhantes às de velas e um piso em padrão xadrez que remete diretamente ao piso do Palácio de Versalhes, localizado a poucos passos do Le Grand Contrôle. O hotel possui apenas 13 quartos, garantindo atenção personalizada: a equipe conhece o nome do hóspede, suas preferências e detalhes importantes que fazem com que cada estadia seja inesquecível.

Cada quarto recebe o nome de uma figura histórica ligada a Versalhes. Um exemplo é a suíte Madame de Fouquet, inspirada na esposa de Nicolas Fouquet (1615–1680), Superintendente das Finanças de Luís XIV. Ao entrar no quarto, um verdadeiro apartamento real, o hóspede encontra uma necessaire de chamois azul-marinho com suas iniciais gravadas em dourado, evocando a estampa de fleur-de-lis, um símbolo da realeza francesa, como nos retratos mais icônicos do Rei Sol. Um porta-jóias, um tag de mala personalizado e uma bolsa no mesmo tecido complementam as boas-vindas, acompanhados de uma caixa especial de macarons ilustrada com a vista do Palácio de Versalhes.

A arquitetura e a decoração são fiéis ao estilo da época, em um projeto assinado pelo arquiteto e designer de interiores Christophe Tollemer. Os espelhos são originais, com o característico pontilhado escuro semelhante ao da Galeria dos Espelhos, e molduras douradas com ornamentos florais e rocaille — termo derivado de “rocha”, origem do estilo Rococó, surgido na França no início do século XVIII. O lustre de cristais dialoga com o espelho, criando reflexos infinitos. A estrutura da cama da suíte Madame de Fouquet é inspirada nas camas usadas por figuras como Maria Antonieta. O tecido é idêntico ao papel de parede, produzido pela Maison Pierre Frey com base em estudos dos acervos históricos do palácio. A padronagem delicada em tons de rosa e verde lembra as tapeçarias e os trajes do século XVIII, evocando formas florais e típicas do estilo rococó. Além da estética, a cama também é única, graças à linha de colchões criada especialmente pela Maison Treca.



O jantar no restaurante do hotel, assinado pelo renomado chef Alain Ducasse, possui uma estrela Michelin. Servido à luz de velas, acompanhado de um pequeno livro antigo e um arranjo de rosas, recria com precisão a atmosfera aristocrática registrada em pinturas do século XVIII. A experiência desperta todos os sentidos: as louças douradas, a música clássica, os aromas, a apresentação impecável e pratos que incluem caviar e receitas inspiradas em eventos históricos reais, datados no menu — como 2 de agosto de 1784 — para que o hóspede sinta-se transportado para aquele momento.


Em dias de espetáculo de fogos de artifício nos jardins de Versalhes, após o jantar o hotel conduz os hóspedes em um carro com acesso noturno exclusivo ao domínio projetado por André Le Nôtre (1613–1700), com suas fontes monumentais e mais de 300 esculturas. Assentos na primeira fila são reservados para os hóspedes do Le Grand Contrôle.
Além dos quartos e do restaurante, o Le Grand Contrôle oferece aos hóspedes uma curadoria de experiências que revela Versalhes sob uma perspectiva única. Entre elas, destaca-se a visita privada à Galeria dos Espelhos, realizada após o fechamento do palácio ao público. Pela manhã, antes da abertura, é possível explorar com um guia especializado os palácios do Grand Trianon e do Petit Trianon, antigas residências do rei e da rainha. Durante o dia, um carrinho de golfe exclusivo fica à disposição para que os hóspedes possam percorrer livremente os vastos jardins e edifícios históricos do domínio, incluindo a Aldeia da Rainha idealizada por Maria Antonieta. Outra possibilidade é navegar pelo Grande Canal, construído em 1669, a bordo de um barco elétrico.
Para quem deseja uma imersão ainda mais profunda, o hotel pode organizar visitas privadas à Biblioteca Real de Versalhes, que conta com documentos raros como cartas originais de Maria Antonieta e de George Washington. As opções de atividades ao ar livre incluem cavalgadas, piqueniques, passeios de carro vintage até voos de helicóptero.

Uma das experiências mais memoráveis do hotel é o “despertar real”. No horário escolhido, um membro da equipe entra suavemente no quarto, arranha levemente a porta, abre as cortinas deixando a luz entrar e toca uma música clássica. O café pode ser servido no quarto ou no terraço do restaurante, e inclui opções inspiradas no século XVIII, como o macio pain perdu feito com laranjas.
Em uma palavra, a experiência do Airelles em Versalhes pode ser descrita através do famoso lema utilizado pelo Rei Luís XIV: em latim, nec pluribus impar, que se traduz a “incomparável”.