A poluição plástica nos oceanos é um dos maiores desafios ambientais da atualidade, com milhões de toneladas de plástico indo parar no mar todos os anos e se acumulando no fundo, que acaba funcionando como um “cemitério” para esses resíduos.
Apesar de existirem plásticos que se dizem “biodegradáveis”, como o PLA (polilactídeo) – um tipo comum feito a partir de açúcares –, a verdade é que muitos deles não se decompõem em condições naturais, especialmente nas profundezas do oceano. Mas uma nova descoberta científica traz uma luz no fim do túnel para esse problema.
Cientistas no Japão alcançaram um feito inédito: eles mostraram que um novo tipo de poliéster, chamado poli(D-lactato-co-3-hidroxibutirato) (LAHB), consegue, de fato, se degradar ativamente no fundo do mar. O mais impressionante é que esse material é produzido por bactérias Escherichia coli modificadas em laboratório.
A pesquisa é notável porque as condições no fundo do mar são extremamente hostis: a 855 metros de profundidade, perto da Ilha Hatsushima, a temperatura é baixíssima (cerca de 3,6 °C), a pressão é altíssima e há poucos nutrientes. Mesmo assim, o LAHB, que já se degradava bem em ambientes mais amenos como solo, rio e águas costeiras, mostrou que também pode se decompor nesse ambiente extremo.
Para testar o LAHB, os pesquisadores submergiram filmes desse material no fundo do mar por 7 e 13 meses. Os resultados foram animadores: os filmes de LAHB apresentaram rachaduras e uma superfície áspera, além de uma perda de peso considerável. Um dos filmes, o P13LAHB, perdeu mais de 82% de sua massa após 13 meses submerso. Em contraste, o PLA, usado como comparação, não mostrou nenhuma alteração.
A chave para essa degradação está em comunidades de microrganismos, que os cientistas chamam de “plastisferas”. Elas se formaram em grande quantidade na superfície do LAHB, mas não no PLA. Através de análises genéticas avançadas, os pesquisadores identificaram micróbios específicos, que agem como verdadeiros “demolidores” de plástico.
Esses microrganismos produzem enzimas especiais (como as despolimerases de PHB) que quebram as longas cadeias do LAHB em pedaços menores. Em seguida, outras enzimas, produzidas por microrganismos como o gênero UBA7959, continuam a quebrar esses fragmentos em unidades ainda menores. No final, uma variedade de outros micróbios (como os da classe Alphaproteobacteria e do grupo Desulfobacterota) consomem esses fragmentos, transformando o plástico em dióxido de carbono, água e outros compostos inofensivos, reintegrando-o ao ciclo natural do oceano.
Essa pesquisa não só nos ajuda a entender como os bioplásticos podem se degradar em ambientes marinhos profundos e remotos, mas também destaca o LAHB como uma solução promissora para criar materiais plásticos mais seguros e verdadeiramente biodegradáveis.
É como se a própria natureza, com a ajuda desses pequenos “recicladores” microbianos, estivesse encontrando uma forma de “digerir” o que nós produzimos. Isso representa uma nova e importante esperança para a saúde dos nossos oceanos e para a construção de uma economia circular, onde os materiais são reutilizados e reciclados de forma eficiente.