Simplesmente espetacular e surpreendente o que o filme O Silêncio dos Inocentes (1991) nos ensina. Uma brilhante e novata agente do FBI, interpretada por Jodie Foster, tem como primeira missão descobrir quem está mutilando corpos de jovens mulheres, mas, para isso, depende de informações de um cruel assassino que a faz pensar e conduzir os seus atos.
Me parece que toda a pessoa que vive com obesidade tem um Dr. Hannibal Lecter dentro dela, que foi vivido pelo excepcional Anthony Hopkins: por ser alguém que dá dicas, mas falta a percepção de escutá-lo. Nosso organismo, parafraseando o filme, nos “diz coisas e nós devemos perceber essas coisas”. A evolução da doença obesidade em uma fase inicial pode ser silenciosa, como um plano secreto, mas com o tempo deixa sinais que serão notáveis e “poucos são aqueles que podem ver a verdadeira natureza dessas coisas”.
É multifatorial e o mais inocente é quem convive com ela, mas “toda ação tem seu prazer e seu preço”. As falhas metabólicas e fisiológicas, o descontrole do sistema de fome e saciedade tornam essa doença um enigma com vários suspeitos, deixando a resolução do caso extremamente complexa. Daí a importância de procurar um especialista e o tratamento ser individualizado, como um caso de polícia.
O enredo leva essa cidade chamada de organismo a várias agressões e depredações em bairros antes calmos como fígado, coração, rins, vasos sanguíneos e no beco dos joelhos, quadris e coluna. As cidades podem ser afetadas desde as áreas do jardim de infância até universidades e empresas, e essa situação deve ser patrulhada em todos os níveis.
O ataque a crianças, em geral, além dos fatores próprios da doença, se agrava com o envolvimento de familiares como cúmplices, pois são eles os responsáveis por oferecer alimentos sabidamente prejudiciais aos seus filhos. Esse organismo infantil, inicialmente responde só com acúmulo de gordura, dificuldade na prática de atividades físicas e exclusão social. Mais tarde sofrerá as consequências severas dessa agressão.
Ao apresentarmos armas como açúcar, sal e balas para crianças, elas tomam gosto e aprimoram esse paladar, afinal de contas “você não pode planejar uma memória”, mas sabidamente, quanto mais tempo o nosso hipotálamo é atacado por essa doença, mais difícil ele saberá responder a tratamentos futuros.
Na cidade dos jovens e adultos, essas depredações passam a apresentar pistas claras que não é mais seguro vivermos nessas regiões. Como no filme, Dr. Hannibal nos dará sinais de que o bairro do fígado está infiltrado de gordura e em mal funcionamento. No dos rins, os ralos de drenagem das águas do nosso organismo estão colapsando; no dos vasos, os encanamentos estão entupindo e, no beco dos joelhos e coluna, os pilares das pontes foram abalados e danificados.
Há quem discuta que a cidade, a pessoa com obesidade, está segura. Porém, o assassino circula no subterrâneo das camadas superficiais e profundas diariamente buscando seus órgãos alvos. A boa notícia é que, hoje, podemos buscar departamentos especializados no combate dessa doença como: Fazer Bariátrica bem Indicada (FBI) ou Corretamente Injetar Análogos (CIA) de GLP1, como a semaglutida (Ozempic) e tizerpartida (Moujaro) que tem se demonstrado um caminho seguro no controle dessa desordem urbana.
Caminhar pela cidade, buscar o setor de boa alimentação e passar no de psicologia, complementam esses departamentos. E como dizia Dr. Lecter, quando nos lembrarmos do corpo obeso que se foi, “pensaremos nele como uma experiência”.