counter Uma noite no museu: como o restaurante A Baianeira aproxima comida e arte – Forsething

Uma noite no museu: como o restaurante A Baianeira aproxima comida e arte

Às 18h, o Masp fecha as portas para os visitantes interessados em ver as obras de Frans Krajcberg, Tania Ximena ou os quadros que fazem parte do vasto acervo da instituição. Mas a movimentação dentro do museu mais emblemático da cidade de São Paulo continua intensa. Equipes fazem as manutenções necessárias, guias acompanham pequenos grupos em visitas exclusivas e o auditório recebe encontros variados. É esse cenário de agitação noturna que a chef Manu Ferraz escolheu para não apenas celebrar os 10 anos de seu restaurante A Baianeira como também fazer provocações sobre as conexões entre a comida e a arte. 

Ailton Krenak fala de reflorestar o pensamento, uma analogia para que a gente olhe o que é de dentro, o que é nosso”, diz a chef Manu Ferraz. “Queremos fazer isso com a comida e mostrar como é possível contar uma mesma história de novas formas”, completa. Para celebrar uma década de seu restaurante – feito raro em uma cidade onde muitos estabelecimentos não conseguem superar os primeiros anos -, ela escolheu montar um menu baseado nas tradicionais festas de Antônio, Pedro e João. “Vamos percorrer o Brasil com aquilo que mais nos une”, diz a chef mineira que abraçou a cozinha de diversas regiões do país.

Nas oito etapas do menu, Ferraz serviu itens clássicos das festividades juninas com uma proposta diferente. O amendoim, oferecido com um flan de milho, foi tratado como carne e cozido lentamente, sem passar pela pressão. O frango assado aparece como recheio de uma delicada massa fresca. Segundo ela, é uma homenagem à prenda da quermesse do interior de outros tempos, quando o vencedor voltava para casa com um frango. Elementos tradicionais de outras regiões aparecem como elementos de conexão. O arroz de pato é servido com aioli de tucupi preto, por exemplo. “Fui para Parintins e voltei muito impactada, entendendo que tudo está interligado. O Brasil é um só”, diz. 

A celebração não apenas marca o décimo aniversário do restaurante A Baianeira, que começou pequeno, na Barra Funda, com Manu Ferraz vendendo o pão de queijo cuja receita foi passada a ela por sua avó, como também o novo endereço, no prédio anexo do Masp. Antes, a chef já tinha marcado presença no museu com um pequeno café instalado ao lado da loja. Agora, ganhou um espaço no prédio anexo, inaugurado no início deste ano. Além de estar no mesmo nível da avenida, tem mais estrutura para servir refeições completas. 

Frango aparece como recheio de massa fresca e faz homenagem às prendas de quermesses do interior
Frango aparece como recheio de massa fresca e faz homenagem às prendas de quermesses do interiorAndré Sollitto/VEJA

Seu diálogo entre cozinha, cultura popular e arte faz ainda mais sentido por conta da relação do próprio museu com esses cruzamentos. A primeira exposição do Masp, em 1969, foi A Mão do Povo Brasileiro, que reuniu peças de artesanato de diferentes regiões, de carrancas e santos esculpidos em madeira a ferramentas e peças de mobiliário. “Isso é parte de um processo de nos reconhecermos como nação”, afirma.

Publicidade

About admin