O anúncio do tarifaço imposto ao Brasil pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, dividiu a oposição brasileira. Entusiasta da medida, vista por ele como fundamental para viabilizar a aprovação da anistia a Jair Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) não queria que integrantes da direita criticassem a iniciativa ou tentassem negociar com o governo americano uma redução na sobretaxa aos produtos brasileiros.
Autoexilado nos Estados Unidos, o Zero Três queria ter o monopólio do diálogo com a gestão Trump e considerava um erro tentar minimizar o tarifaço, o que poderia reduzir a pressão para garantir a aprovação de uma anistia ampla, geral e irrestrita aos investigados por tentativa de golpe e aos condenados pelo atentado de 8 de janeiro. O plano do deputado, no entanto, logo foi contestado.
Cobrado a defender a economia de São Paulo, estado que mais vende para os Estados Unidos, o governador Tarcísio Gomes de Freitas procurou o encarregado de negócios da embaixada americana no Brasil, Gabriel Escobar, para tentar abrir conversas destinadas a garantir que a indústria e o agronegócio paulistas não fossem prejudicados. Eduardo não gostou da iniciativa e fez uma reprimenda pública ao aliado.
Temperatura máxima
A crítica do deputado ao governador levou a uma intervenção de Jair Bolsonaro, que colocou panos quentes na situação. Mensagens divulgadas pela Polícia Federal ao pedir o indiciamento do ex-presidente e de Eduardo por obstrução de justiça e coação revelam que a costura do armistício ocorreu em altíssima temperatura.
O deputado não gostou do fato de o pai dele, ao ser perguntado sobre a crítica do filho ao governador, ter declarado que Eduardo era imaturo. O rebento, conforme relatório da PF, insulto o pai numa troca de mensagem: “VTNC, seu ingrato do c…”. Depois, ainda deixou claro sua rixa com Tarcísio, rival interno na disputa pelo espólio eleitoral do capitão: “Tarcísio nunca te ajudou em nada no STF. Sempre esteve de braço cruzado vendo vc se f… e se aquecendo para 2026”.
O ex-presidente, pelo que se sabe, não repreendeu o filho. Outro de seus rebentos, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) discorda das críticas públicas feitas por Eduardo a Tarcísio. “Algumas pessoas não precisam ficar provando que são leais ao presidente Bolsonaro. É o caso do Tarcísio e do deputado Nikolas Ferreira (que também foi criticado por Eduardo). Eles sempre estiveram do nosso lado nas pautas mais importantes”, afirmou o senador a VEJA. “O Tarcísio é um baita ativo da centro-direta. Atirar qualquer pedra nele é desgastar nosso próprio ativo”.
