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Um ano de protagonismo brasileiro na saúde

O Brasil encerrou 2025 mostrando que é capaz de acompanhar a velocidade das inovações médicas globais. Em um cenário de corrida internacional por imunizantes, terapias avançadas e tecnologias digitais aplicadas à saúde, o país também produziu iniciativas próprias que impactaram diretamente a vida da população. Entre vacinas pioneiras, diagnósticos moleculares e cirurgias robóticas, o Brasil alcançou marcos que reforçam sua relevância no campo da saúde.

Enquanto nos Estados Unidos, movimentos antivacina ganharam força política e levaram a cortes em pesquisas e mudanças nas diretrizes oficiais, o Brasil seguiu na direção oposta: ampliou o acesso universal pelo SUS e aprovou as vacinas de dose única contra a dengue e a chikungunya, do Instituto Butantan, que já estão sendo produzidas e estarão disponíveis em larga escala a partir do ano que vem.

Nesse aspecto, merecem destaque no Brasil tanto a produção de imunizantes, que reduz nossa dependência de importação, como as políticas públicas de ênfase na prevenção. A vacinação contra o HPV, por exemplo, trouxe resultados concretos, segundo dados de estudo da Fiocruz: redução de 58% dos casos de câncer de colo de útero e de 67% das lesões graves entre mulheres vacinadas. A vacina contra o HPV não é nacional, mas o Brasil inovou no diagnóstico: o teste molecular de DNA-HPV, genuinamente brasileiro, é capaz de detectar 14 genótipos do vírus com maior precisão que o Papanicolaou. O exame, criado pelo Instituto de Biologia Molecular do Paraná, em parceria com o governo do mesmo estado e com a Fiocruz, passou a ser oferecido pelo SUS neste ano, representando um marco de autonomia científica nacional e um reforço da política de saúde pública.

Da mesma forma, graças às políticas públicas de testagem ampla, tratamento universal e acompanhamento pré-natal estruturado, pudemos comemorar a eliminação da transmissão vertical do HIV. O Brasil se tornou neste ano o maior país do mundo a eliminar essa forma de transmissão da Aids – enquanto os Estados Unidos, em movimento inverso, fizeram cortes em programas de contenção da doença.

Em conjunto com políticas públicas, são sempre bem-vindas as parcerias com entidades da sociedade civil. Em 2025, o Programa TransplantAR, iniciado em 2023, foi vencedor do Prêmio Innovare, que reconheceu a sua importância num país de território tão vasto como o nosso. Uma rede solidária de aeronaves privadas é acionada, sem custo nenhum, quando um órgão precisa ser transportado, de modo a viabilizar transplantes de alta complexidade dentro da sua janela de viabilidade. Em dois anos de existência, 70 transplantes foram realizados graças ao sistema.

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Outro reconhecimento importante foi a inclusão do pesquisador Luciano Moreira na prestigiosa lista dos dez cientistas mais influentes do mundo, elencados pela revista Nature, graças ao seu criativo projeto de combate a arboviroses. A produção de mosquitos modificados com a bactéria Wolbachia pipientis, que bloqueia a transmissão dos vírus da dengue, da zika e da chikungunya, torna inofensivo o Aedes aegypti. Seu método já foi adotado em pelo menos 14 países, e a maior biofábrica de Wolbachia do mundo foi inaugurada em Curitiba.

Talvez a mais espetacular descoberta da ciência brasileira neste ano tenha sido a polilaminina, uma proteína desenvolvida a partir da placenta humana capaz de estimular neurônios maduros a se regenerarem, abrindo perspectivas para o tratamento de lesões na medula espinhal, inclusive a recuperação de movimentos de paraplégicos. Resultado de mais de duas décadas de pesquisa, sob a liderança da professora Tatiana Coelho de Sampaio, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, representa uma promessa revolucionária da medicina regenerativa, desenvolvida integralmente no Brasil, com investimento da farmacêutica nacional Cristália.

Outras farmacêuticas brasileiras já vêm adentrando o mercado das canetas à base de análogos do GLP-1, iniciativa que pode baratear o custo de medicamentos que transformaram o tratamento do diabetes, da obesidade e de outros quadros clínicos, como a esteatose hepática não alcoólica, a apneia obstrutiva do sono e eventos cardiovasculares, e que podem oferecer benefícios em outras áreas, como o tratamento do alcoolismo e até do Alzheimer. Além disso, a Anvisa autorizou o cultivo da Cannabis para fins científicos, criando a possibilidade de novas descobertas no país.

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Em setembro, o Brasil entrou para o Guinness Book com a telecirurgia mais distante já realizada, conectando médicos no Kuwait e pacientes em Curitiba, em uma operação de hérnia inguinal. No mesmo dia, houve telecirurgia em dupla direção, em que o controle é compartilhado entre equipes médicas dos dois locais, permitindo que participem ativamente da mesma operação. O desafio está em garantir conexão de altíssima velocidade e baixa latência para que os comandos sejam transmitidos em tempo real sem risco para o paciente.

Experiências desse tipo vêm demonstrando a viabilidade da tecnologia. Como costumamos dizer, esse é um caminho sem volta. O Ministério da Saúde lançou a Rede Nacional de Hospitais Inteligentes, com 14 UTIs automatizadas e o primeiro hospital inteligente do país, integrando inteligência artificial, big data e monitoramento contínuo. A telemedicina já é uma realidade no país, que promete reduzir muito as desigualdades regionais, levando a expertise dos especialistas a locais distantes.

Ao mesmo tempo, a robótica ganhou mais espaço no país com a inclusão nos planos de saúde e no SUS da prostatectomia com auxílio de robôs. O ganho é do paciente, que se submete a uma técnica menos invasiva, com menor risco de complicações e recuperação mais rápida. Outras cirurgias robóticas vêm sendo realizadas, mas principalmente em hospitais privados, em razão dos altos custos do procedimento. Já há mais de cem robôs cirúrgicos em operação no Brasil.

As conquistas de 2025 deixam uma mensagem clara: o Brasil pode inovar e contribuir de forma significativa para a ciência global. Mesmo assim, ainda enfrenta desafios, como a ampliação do acesso às tecnologias, a redução de desigualdades regionais e a garantia de sustentabilidade financeira. É justamente essa combinação de ousadia com realismo que fortalece o papel estratégico do Brasil na saúde contemporânea e abre caminho para que os avanços se tornem patrimônio coletivo.

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