Forças russas atingiram, na madrugada desta segunda-feira (8), uma usina termelétrica na região de Kiev, provocando blecautes localizados e interrupções no fornecimento de gás.
O ataque, confirmado pelo Ministério da Energia da Ucrânia, marca a continuidade da ofensiva russa contra a infraestrutura do país e ocorre um dia após Moscou lançar a maior ofensiva aérea desde o início da guerra, em fevereiro de 2022.
“O objetivo é claro: causar ainda mais sofrimento à população civil, deixando casas, hospitais, creches e escolas sem luz e sem aquecimento”, afirmou o ministério em comunicado divulgado no Telegram. Equipes de resgate e técnicos foram mobilizados para restabelecer os serviços.
A operadora de energia Ukrenergo informou que instalações em várias regiões foram atingidas, mas que a maior parte dos consumidores teve a eletricidade restaurada já nesta manhã.
Ainda assim, os danos foram significativos: segundo o governador da região de Kiev, Mykola Kalashnyk, a rede de gás local também foi comprometida, afetando mais de 8 mil propriedades em oito municípios, que permanecerão sem fornecimento por pelo menos dois dias.
A Rússia confirmou o bombardeio. Desde o início da invasão, Moscou tem sistematicamente mirado o sistema energético da Ucrânia, em uma estratégia de desgaste para enfraquecer a resistência e dificultar a vida da população durante os meses de frio.
Nos últimos invernos, ofensivas semelhantes causaram apagões massivos e expuseram a vulnerabilidade do sistema.
Segundo Serhiy Kovalenko, CEO da empresa de energia Yasno, os ataques às instalações elétricas se intensificaram nas últimas semanas.
“Claro que ninguém sabe o que acontecerá neste outono, mas, diante dos ataques recentes, não há motivo para otimismo”, disse em mensagem na rede X.
O Kremlin, por sua vez, reafirma que sanções e pressões externas não mudarão sua postura em relação à guerra.
Para analistas, a ofensiva contra o setor energético tem também caráter estratégico: além de fragilizar o cotidiano da população, busca pressionar aliados ocidentais da Ucrânia a rever seu apoio diante do risco de colapso humanitário.
Pressão internacional
O principal negociador da União Europeia para sanções está em Washington nesta segunda-feira (8) para encontros com autoridades americanas, após Donald Trump declarar que pretende adotar novos embargos contra a Rússia por causa da guerra na Ucrânia.
David O’Sullivan, representante europeu para sanções, discute com seus pares nos EUA alternativas para intensificar a pressão sobre Vladimir Putin, depois de Moscou lançar no fim de semana o maior ataque aéreo desde o início do conflito.
Antes da viagem, o presidente do Conselho Europeu, António Costa, exaltou a cooperação transatlântica e destacou que os EUA seguem firmes no apoio a Kiev.
A Comissão Europeia confirmou que Ursula von der Leyen conversou por telefone na sexta-feira com o vice-presidente americano, JD Vance, tratando exclusivamente da situação ucraniana.
No domingo, questionado na Casa Branca se estava pronto para iniciar uma “segunda fase” de sanções, Trump respondeu: “Sim, estou”, sem fornecer detalhes.
tu9O republicano ainda mencionou que receberia “alguns líderes europeus” nesta semana e que em breve conversaria com Putin.
Trump já ameaçou medidas mais duras contra Moscou, mas em ocasiões anteriores deixou prazos expirar sem ações concretas.
Em Helsinque, nesta segunda-feira, Costa afirmou que UE e EUA estão “harmonizando esforços para alinhar as sanções, aumentar sua eficácia” e pressionar Putin a negociar com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Segundo ele, o bloco precisa não só reforçar restrições à Rússia, mas também aplicar “sanções secundárias” a países que compram gás e petróleo russos.
O chanceler alemão, Friedrich Merz, condenou os ataques de Moscou, classificados como uma nova escalada. Berlim afirmou que apoiaria a entrada dos EUA em uma frente mais rigorosa de restrições contra o Kremlin.
No fim de semana, o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, sugeriu que Washington e Bruxelas poderiam impor tarifas a nações que continuam importando petróleo russo. Ele advertiu que a disputa é uma corrida entre a resistência do Exército ucraniano e a capacidade da economia russa de sobreviver.
A Casa Branca já aplicou tarifas de 50% sobre produtos da Índia em reação às compras de petróleo russo com desconto, mas evitou medidas semelhantes contra grandes consumidores como a China.
A ideia de sanções secundárias é delicada para a UE, que busca concluir novos acordos comerciais — inclusive com a Índia — até o fim do ano, em meio às tarifas americanas que têm abalado o comércio internacional.
O foco dos EUA em energia russa também expõe divergências internas no bloco, sobretudo com Hungria e Eslováquia, que resistem aos planos de eliminar combustíveis fósseis de Moscou até 2028.
Os premiês Viktor Orbán e Robert Fico, próximos de Trump e amistosos com Putin, criticam abertamente a estratégia de Bruxelas.
Segundo o secretário de Energia dos EUA, Christ Wright, se a Europa encerrar as compras de combustíveis fósseis russos, isso teria “com certeza” um impacto positivo na disposição de Washington em adotar sanções mais agressivas.
A UE já se comprometeu a importar US$ 750 bilhões em petróleo, gás e produtos nucleares americanos até 2028.
Desde fevereiro de 2022, quando começou a invasão em larga escala, o bloco europeu aprovou 18 pacotes de sanções contra a Rússia.
O mais recente, em julho, reduziu o teto de preços do petróleo russo, fechou brechas no comércio de derivados e proibiu navios que transportam energia russa de atracar em portos da região.
Em Helsinque, o premiê da Finlândia, Petteri Orpo, reforçou que a cooperação com os EUA é indispensável: “Putin não vai parar de matar, não vai se sentar para negociar. Precisamos de mais sanções, sanções mais severas, maior apoio militar e novos mecanismos de segurança para a Ucrânia”.
No sábado, a Rússia lançou sua ofensiva aérea mais intensa, incendiando a sede do governo em Kiev e matando ao menos quatro pessoas, entre elas uma mãe e seu bebê.
Zelensky afirmou que Putin está testando a reação internacional para ver “se aceitam ou toleram” e pediu aos aliados que imponham novas sanções e tarifas mais duras contra Moscou.
O Kremlin respondeu nesta segunda-feira, via agência estatal RIA, que nenhuma punição levará a Rússia a mudar sua postura na guerra. “Europa e Ucrânia estão fazendo de tudo para atrair os EUA para sua esfera de influência”, disse o porta-voz Dmitry Peskov.