O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira, 27, em Kuala Lumpur, na Malásia, que o ex-presidente Jair Bolsonaro “faz parte do passado da política brasileira”. Ao ser questionado sobre as menções elogiosas de Donald Trump ao político de extrema direita durante a reunião entre os dois líderes, o petista respondeu de forma direta: “Ele sabe que rei morto, é rei posto”.
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A frase, dita ao fim de uma longa resposta sobre as relações bilaterais entre Brasil e Estados Unidos, sintetizou o recado político de Lula: o petista quer olhar para a frente e consolidar uma nova etapa de diálogo com Washington, agora em bases pragmáticas. “Eu disse para ele [Trump] que o julgamento foi um julgamento muito sério, com provas contundentes”, afirmou, ao comentar as condenações de aliados de Bolsonaro pelos atos de 8 de janeiro. “Eles foram julgados com direito de defesa, que eu não tive quando fui processado. Portanto, isso não está em discussão.”
Lula ressaltou que o presidente republicano compreendeu a gravidade do que ocorreu no Brasil. “Disse para ele que tentaram matar a mim, o meu vice-presidente e o ministro Alexandre de Moraes. E ele sabe da seriedade disso”, afirmou. Em seguida, arrematou: “O Bolsonaro era nada praticamente. Era. Porque eu não converso em tom pessoal, converso em tom político, de interesse do meu país”.
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O presidente brasileiro contou ter sentido “muita sinceridade” no diálogo com Trump e garantiu que o clima entre ambos é de disposição para o entendimento. “Eu estou convencido de que, em poucos dias, nós teremos uma solução definitiva entre Estados Unidos e Brasil”, disse. Lula entregou ao americano um documento com as reivindicações brasileiras, que incluem a suspensão de tarifas sobre produtos nacionais e a retirada de punições a autoridades brasileiras impostas por Washington.
O petista destacou que a divergência ideológica entre os dois não impede uma relação de respeito. “Eu respeito porque ele foi eleito pelo voto democrático do povo americano, e ele me respeita porque fui eleito pelo povo brasileiro”, afirmou. “Quando dois chefes de Estado colocam isso na mesa, tudo fica mais fácil.”
Ao longo da entrevista, Lula fez questão de demonstrar otimismo e enfatizou seu estilo pessoal de negociação. “Eu aprendi a negociar antes mesmo de ser presidente. Sei quando ceder e sei quando não ceder”, afirmou. “Se depender do Trump e de mim, vai ter acordo.”
Sobre sua relação com Bolsonaro, o presidente voltou a minimizar o papel do antecessor. “O Bolsonaro faz parte do passado. O Brasil precisa olhar para frente. Eu quero construir o futuro deste país, e não ficar preso a quem tentou destruí-lo.”
A declaração “rei posto é rei morto”, ainda que dita em tom coloquial, marca mais um capítulo da estratégia de Lula de se desvencilhar politicamente da sombra do ex-presidente e reposicionar o Brasil no cenário internacional, agora com protagonismo diplomático e disposição ao diálogo — até mesmo com antigos adversários.