O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta sexta-feira, 14, que pedirá ao Departamento de Justiça (DOJ, na sigla em inglês) para investigar o suposto envolvimento do ex-presidente Bill Clinton e de outros democratas, além do banco americano JPMorgan, no esquema de Jeffrey Epstein, bilionário acusado de tráfico sexual de adolescentes que cometeu suicídio na prisão em 2019.
O anúncio ocorre poucos dias após a Comissão de Supervisão da Câmara dos EUA divulgar um novo lote de documentos sobre o caso Epstein, incluindo e-mails que citam o republicano. Além de Clinton, o ex-secretário do Tesouro, Larry Summers, e o fundador do LinkedIn, Reid Hoffman, também serão investigados, disse Trump. Os três homens, assim como o líder americano, foram mencionados nos 20 mil documentos tornados públicos.
“Epstein era democrata, e ele é um problema dos democratas, não dos republicanos!”, escreveu Trump na Truth Social, rede social da qual é dono, sem oferecer provas. “Todos sabem quem ele é, não percam tempo com Trump. Eu tenho um país para governar!”
O ex-presidente voou quatro vezes no jato particular de Epstein e teria tentado pressionar a revista americana Vanity Fair a não publicar acusações de tráfico sexual contra o bilionário. O JPMorgan, por sua vez, pagou US$ 290 milhões para algumas das vítimas de Epstein em 2023, com o objetivo de encerrar as acusações de que teria ignorado o esquema de tráfico. Já Hoffman se encontrou com o financista algumas vezes, ao passo que Summers aceitou doações filantrópicas de Epstein enquanto presidente da Universidade Harvard.
Epstein conviveu com milionários de Wall Street, membros da realeza (notadamente, o príncipe Andrew) e celebridades antes de se declarar culpado de exploração sexual de menores em 2008. As acusações que o levaram à prisão em 2019 ocorreram mais de uma década após um acordo judicial que o protegia. Ele foi encontrado morto por enforcamento pouco mais de um mês após parar atrás das grades.
A a relação entre Trump e Epstein é antiga: eles faziam parte de círculos sociais de elite de Nova York e da Flórida. Em 2002, o republicano disse à revista New York que o financista era “fantástico” e “muito divertido de se estar por perto”. Ele também contou que a dupla se conhecia há 15 anos, acrescentando: “Dizem até que ele gosta de mulheres bonitas tanto quanto eu, e muitas delas são do tipo mais jovem”.
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E-mails comprometedores
Trocas de e-mails tornadas públicas sugerem que Trump não só sabia dos crimes cometidos por Epstein como passou “horas” com uma das vítimas — na edição publicada pelos democratas, o nome dela não aparece, mas outra versão do lote mostra que seria Virginia Giuffre, uma das principais acusadoras do financista, que morreu por suicídio em abril deste ano. Poucas horas após a movimentação, republicanos da Câmara dos EUA publicaram um grande volume de documentos em uma tentativa de refutar o envolvimento de Trump nos crimes.
As correspondências eletrônicas foram enviadas para Ghislaine Maxwell, cúmplice que foi condenada à prisão por tráfico sexual após a morte do financista; para a advogada Kathryn Ruemmler, ex-conselheira da Casa Branca no governo de Barack Obama; e para o escritor Michael Wolff. Na troca de mensagens, Epstein abordou a amizade com Trump — na época, em campanha presidencial.
Em 2015, Wolff avisou o financista de que a emissora americana CNN planejava perguntar da relação do republicano com o bilionário, “seja ao vivo ou em uma conferência de imprensa posterior”. Em resposta, Epstein escreveu: “Se pudéssemos elaborar uma resposta para ele, qual você acha que deveria ser?”.
O escritor, então, deu conselhos ao amigo: “Acho que você deveria deixá-lo se enforcar. Se ele disser que não esteve no avião ou na casa, isso lhe dará uma valiosa imagem pública e moeda política. Você pode enforcá-lo de uma forma que potencialmente lhe traga um benefício positivo ou, se realmente parecer que ele pode vencer, você pode salvá-lo, gerando uma dívida”, disse.
Um e-mail enviado a Ruemmler, em 23 de agosto de 2018, também aumentou o furor de críticas ao presidente dos EUA. “Eu sei o quão sujo Donald é”, escreveu o bilionário, em referência a possíveis escândalos envolvendo Trump.