Donald Trump mudou o jogo da eleição. A sanção unilateral de 50% sobre as exportações brasileiras devolveu as chances de reeleição de Lula da Silva, desnorteou o governador Tarcísio de Freitas e aumentou a possibilidade de Eduardo Bolsonaro ser o candidato da direita. Se nas próximas semanas Trump não mudar de ideia e as sanções forem efetivas em 1 de agosto, como previsto, a eleição de 2026 pode ser polarizada pelo sentimento em relação aos EUA. As eleições recentes no Canadá e Austrália indicam que o antiamericanismo é forte.
Até a semana passada, Lula era o presidente de um governo considerado ruim ou péssimo por mais da metade da população, amplamente minoritário no Congresso e tão frágil que mantinha ministérios de partidos que articulavam a campanha da oposição. A exitosa campanha digital do ‘nós contra eles’ e ‘ricos contra pobres’ foi capaz de unificar o discurso da esquerda, mas com a volta dos trabalhos no Congresso estava perto do esgotamento. A carta chantagista de Trump na quarta-feira (dia 9) mudou tudo.
De uma vez só, Lula ganhou dois vilões para culpar por qualquer problema econômico nos próximos 18 meses. O dólar subiu? Mais inflação? Mais desemprego? A culpa é de Trump e Bolsonaro. Em horas, a Secretaria de Comunicação Social aprontou duas campanhas: uma nacionalista dizendo que “Brasil se escreve com S de soberania” e outra com a comparação “Lula taxa os super-ricos e Bolsonaro taxa o Brasil”. Não é dezembro e Lula já ganhou o seu presente de Natal.
Na retórica, Lula culpou Jair e Eduardo Bolsonaro, falou mal de Trump e apontou que os EUA têm superávit com o Brasil. Na ação, o vice-presidente Geraldo Alckmin iniciou consultas com os principais exportadores e importadores dos EUA para uma reação de Estado e não de governo. A equipe do Ministério de Indústria e Comércio que negociava até a semana passada com os EUA (e que havia recebido sinais de que o Brasil teria uma tarifa mínima em função do superávit comercial) vai coordenar os trabalhos.
O Brasil não deve tomar nenhuma atitude antes da data do início do tarifaço, 1 de agosto. Mesmo depois, a retaliação deverá ser pontual. Até a sexta-feira (11) estava fora do debate a ideia de quebrar patentes de remédios, levantada por alguns jornais. Também estava descartada uma sobretaxa sobre máquinas e equipamentos, petróleo, gás natural, fertilizantes _ ou seja, qualquer coisa que possa implicar em alta de preços no Brasil. Tanto quanto a possível queda na economia com a redução das exportações, a maior preocupação do Ministério da Fazenda é com o efeito do tarifaço na inflação.
O mais provável, segundo o cenário da sexta-feira, é que a eventual retaliação brasileira se concentre em pontos simbólicos como o etanol de milho, os filmes americanos e as big techs.
A reação dos Bolsonaros ajuda Lula. ” “THANK YOU PRESIDENT TRUMP – MAKE BRAZIL FREE AGAIN – WE WANT MAGNITSKY!”, escreveu deputado licenciado Eduardo Bolsonaro em letras maiúsculas, pedindo que as sanções americanas sejam ampliadas para que o ministro Alexandre de Moraes seja bloqueado de toda operação financeira envolvendo companhias americanas.
Em carta assinada com o jornalista Paulo Figueiredo, Eduardo contou orgulhoso como desde março, quando se autoexilou nos EUA, tem feito lobby pelas sanções. “O presidente Trump, corretamente, entendeu que Alexandre de Moraes só pode agir com o respaldo de um establishment político, empresarial e institucional que compactua com sua escalada autoritária. O presidente americano entendeu que esse establishment também precisa arcar com o custo desta aventura (o julgamento de Jair Bolsonaro)“, escreveu a dupla.
Em entrevista à CNN, o senador Flávio Bolsonaro disse que “Trump não vai parar por aí e nós não temos escolha. Nós não estamos em condições normais, de exigir nada do Trump. Ele vai fazer o que ele quiser, independente da nossa vontade”, disse o senador. Como é que sai dessa enrascada agora? Se você olhar para a Segunda Guerra Mundial, o que os Estados Unidos fizeram com o Japão? Lança uma bomba atômica em Hiroshima para demonstrar força. Cabe a nós termos a responsabilidade de evitar que caiam duas bombas atômicas aqui no Brasil”.
À Globonews, Flavio manteve a defesa da rendição incondicional do país aos caprichos de Trump e disse que bastaria “o Congresso aprovar a anistia (a Bolsonaro)” e eventualmente Trump recuaria.
Júlia Dualibi, Globonews: “Então vocês estão aceitando o Brasil se sucumbir à ameaça do que o Trump está fazendo ao país, porque se derem anistia, tudo bem? Tira os 50% de taxação. No fim do dia, o discurso dos senhores é ‘Ok o Brasil aceitar chantagem, Ok a agente aceitar interferência no Poder Judiciário, Ok o Brasil perder emprego e parar de exportar se a gente tiver o que a gente quer, que é a anistia’.
Flávio Bolsonaro – “Você sabe o que é um contrato de adesão?”, pergunta o senador, fazendo uma analogia com o contrato com uma operadora para adquirir uma linha de celular. “Você pode discutir alguma cláusula? Ou você adere ao contrato e assina ou não assina e vai falar num orelhão”.
Júlia Duailibi – “Mas a democracia brasileira não é um contrato de adesão”.
Flávio Bolsonaro – “Não é o que você acha, não é o que eu acho. É o que é”.
Com adversários com esses, o caminho de Lula fica mais fácil.
Trump fez Lula great again
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