O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, conversou por telefone com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, no último fim de semana, segundo informações publicadas nesta sexta-feira, 28, pelo jornal americano The New York Times.
Durante a chamada, que teve participação do secretário de Estado americano, Marco Rubio, os dois líderes teriam levantado a possibilidade de um encontro. Uma reunião presencial ainda não foi marcada.
O telefonema é um marco importante em meio à escalada de pressão contra Caracas, que viu pesado deslocamento militar para o Caribe e mais de vinte ataques a embarcações que, segundo Washington, carregam drogas. Ao menos 83 pessoas morreram nas investidas, que fazem parte do que ficou conhecido como “Operação Lança do Sul”.
“Ninguém está planejando entrar lá e atirar nele (Maduro) ou capturá-lo — neste momento. Eu não diria que nunca, mas esse não é o plano agora”, afirmou um funcionário familiarizado com as discussões ao portal americano Axios. “Enquanto isso, vamos explodir barcos que transportam drogas. Vamos acabar com o tráfico de drogas.”
Na segunda-feira 24, o Cartel de los Soles como uma “Organização Terrorista Estrangeira”, o que dá aos Estados Unidos mais um pretexto para realizar ações militares dentro e ao redor da Venezuela. Líderes e militares venezuelanos têm sido publicamente ligados ao grupo desde 2007. Enquanto isso, o autocrata negou as acusações e afirmou que o cartel “não existe”.
A decisão da Casa Branca de rotular o Cartel de los Soles como terrorista “traz uma série de novas opções para os Estados Unidos”, disse o secretário de Defesa, Pete Hegseth, na semana passada. Trump também afirmou que a designação daria sinal verde ao governo para atacar bens e infraestruturas de Maduro. Dois funcionários americanos confirmaram à Reuters que Caracas e Washington conversaram nos últimos tempos, mas não há informações sobre em que pé estão as negociações.
Queda de Maduro
Oficialmente, a Operação Lança do Sul é uma força de combate ao narcotráfico. Extraoficialmente, suas ações objetivam provocar uma mudança de regime em Caracas, segundo o Axios.
“Temos operações secretas, mas elas não são planejadas para matar Maduro. São planejadas para impedir o narcotráfico. Se Maduro cair (no meio tempo), não derramaremos uma lágrima”, disse um funcionário da Casa Branca ao Axios. Ele acrescentou que o ditador venezuelano é um “narcoterrorista” e que suas promessas são “vazias”.
No final de outubro, o líder americano revelou que havia autorizado a CIA a conduzir operações secretas dentro da Venezuela, aumentando as especulações em Caracas de que Washington quer derrubar Maduro. Fontes próximas à Casa Branca afirmam que o Pentágono apresentou a Trump diferentes opções, incluindo ataques a instalações militares venezuelanas — como pistas de pouso — sob a justificativa de vínculos entre setores das Forças Armadas e o narcotráfico.
Parte do desafio de persuadir Maduro a deixar o país, segundo autoridades americanas, é que seus aliados — em especial os cubanos — podem executá-lo caso ele ceda à pressão americana e deixe o poder. A Venezuela também é aliada do Irã, da China e da Rússia.
Antes de lançar a Operação Lança do Sul, Trump tentou negociar com Maduro, nomeando o conselheiro Ric Grenell para atuar como um enviado amigável à Venezuela. O ditador ofereceu as riquezas de seu país a Washington, informou o jornal americano The New York Times em outubro, o que o presidente republicano disse ser um sinal de que Caracas entendeu que “não se deve mexer com os Estados Unidos”. Mas Maduro fez uma exigência: permanecer no poder – inaceitável para Trump, segundo o Axios.
Dados das Nações Unidas enfraquecem o discurso de caça às drogas. O Relatório Mundial sobre Drogas de 2025 indica que o fentanil — principal responsável pelas overdoses nos EUA — tem origem no México, e não na Venezuela, que praticamente não participa da produção ou do contrabando do opioide para o país. O documento também aponta que as drogas mais usadas pelos americanos não têm origem na Venezuela — a cocaína, por exemplo, é consumida por cerca de 2% da população e vem majoritariamente de Colômbia, Bolívia e Peru.
Uma pesquisa Reuters/Ipsos divulgada na última sexta-feira, 14, revelou que apenas 29% dos americanos apoiam o uso das Forças Armadas dos Estados Unidos para matar suspeitos de narcotráfico, sem o devido processo judicial, uma crítica às ações de Trump. Em um sinal de divisão entre os apoiadores do presidente, 27% dos republicanos entrevistados se opuseram à prática, enquanto 58% a apoiaram e o restante não tinha opinião formada. No Partido Democrata, cerca de 75% dos eleitores são contra as operações, e 10% a favor.