O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou na noite de quinta-feira, 26, que não permitirá que Israel anexe a Cisjordânia, um território palestino ocupado pelas forças israelenses desde 1967. A declaração ocorreu após seu aliado, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, ameaçar tomar essa região em retaliação às nações que reconheceram formalmente a Palestina na Assembleia Geral das Nações Unidas, como França, Reino Unido e Canadá. A coalizão de extrema direita que sustenta o premiê no poder defende estender o controle tanto por Gaza quanto pela Cisjordânia, tornando impossível o estabelecimento de um Estado palestino.
“Não permitirei que Israel anexe a Cisjordânia. Não, não permitirei. Isso não vai acontecer”, disse Trump a repórteres no Salão Oval, acrescentando: “Já chega. É hora de parar agora”.
Retaliação
Netanyahu chegou a Nova York nesta sexta-feira para seu discurso na Assembleia Geral. Espera-se que ele faça uma fala recheada de críticas, e analistas antecipam o anúncio de algum tipo de retaliação depois do fato de quase uma dezena de países ricos em geral, e em particular os franceses e os ingleses, darem novo peso à lista de 147 dos 193 países da ONU que já reconheciam a Palestina.
De acordo com autoridades em Jerusalém consultadas pela agência de notícias Reuters, qualquer ação de Bibi será previamente aprovada por Trump. As opções incluem a anexação total da Cisjordânia; de porções menores, como uma faixa de território ao longo da fronteira com a Jordânia; ou o fechamento de consulados britânicos, franceses e de outros países em Jerusalém Oriental, segundo observadores.
Autoridades britânicas temiam que, em retaliação às ações do Reino Unido, Trump legitimasse os assentamentos judeus na Cisjordânia, considerados ilegais pelo direito internacional, de forma a reconhecer o domínio das terras por Israel. Líderes árabes e europeus realizaram uma intensa operação de lobby para garantir que o presidente dos EUA não desse sua chancela aos assentamentos.
Assentamentos
Netanyahu enfrenta pressão dos partidos radicais que fazem parte de sua coalizão para anexar a Cisjordânia, gerando alarme entre líderes árabes, alguns dos quais se encontraram na terça-feira com Trump à margem da Assembleia Geral da ONU. Eles alertaram o presidente americano que as consequências de qualquer anexação seriam graves – uma mensagem que o republicano “entende muito bem”, segundo o ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita, o príncipe Faisal bin Farhan Al-Saud.
Os assentamentos israelenses aumentaram em tamanho e número desde que Israel capturou a Cisjordânia da Jordânia na guerra de 1967 e, em seguida, impôs uma ocupação militar. Eles se estendem por todo o território, com um sistema de estradas e outras infraestruturas sob controle israelense, dividindo ainda mais a terra. Um plano amplamente controverso, conhecido como projeto E1, foi aprovado em agosto. O assentamento efetivamente dividiria ao meio a Cisjordânia e a isolaria de Jerusalém Oriental, recortando as terras destinadas a um Estado palestino.
Cerca de 700 mil colonos israelenses vivem entre 2,7 milhões de palestinos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, a pretensa capital de uma futura Palestina, anexada por Israel há 45 anos.