O ex-ministro das Relações Exteriores Aloysio Nunes Ferreira afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem conduzido com “prudência e serenidade” as negociações com o governo de Donald Trump sobre o chamado tarifaço — o conjunto de sobretaxas impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros.
Em entrevista ao programa Ponto de Vista, apresentado por Marcela Rahal, o ex-chanceler avaliou que o governo brasileiro já fez tudo o que estava ao seu alcance para tentar reverter a medida. “O presidente Lula não perdeu a cabeça, conduziu-se com prudência e foi tratado com um respeito que nenhum outro chefe de Estado recebeu de Trump”, afirmou.
Negociação difícil, mas dentro do esperado
Aloysio Nunes lembrou que o pedido de suspensão das tarifas enquanto as negociações estão em andamento segue um padrão diplomático, já adotado por diversos países — sem sucesso. “Todos os dirigentes e países atingidos pelas tarifas, inclusive da União Europeia, fizeram o mesmo pedido. Nenhum foi atendido por Trump”, destacou.
Segundo ele, o impasse não é sinal de fracasso brasileiro, mas parte natural do processo. “É assim mesmo que se faz. Pede-se a suspensão enquanto se discute. O importante é que agora começa uma negociação que poderá levar à redução das tarifas”, disse.
Mais que tarifas: uma pauta estratégica
Para o ex-ministro das Relações Exteriores, as tratativas entre Brasil e Estados Unidos vão além do tema comercial. “Essa negociação envolve não apenas tarifas, mas outros itens importantes da relação econômica, diplomática e política entre os dois países”, explicou.
Aloysio citou o documento entregue por Lula a Trump durante o encontro na Ásia, no qual o governo brasileiro teria incluído propostas de cooperação em áreas estratégicas, como energia, meio ambiente e investimentos bilaterais. “Está tudo escrito no documento que o presidente Lula entregou. Essa é uma pauta mais ampla, de reposicionamento do Brasil”, afirmou.
Respeito diplomático e realismo político
Na visão do ex-chanceler, o Brasil alcançou um ponto de equilíbrio raro nas relações com Washington. “O presidente foi respeitoso e recebeu um tratamento digno, o que é significativo considerando o histórico imprevisível de Trump. Lula fez o que tinha que fazer”, avaliou.
Aloysio Nunes defendeu que o país mantenha o diálogo aberto e evite transformar o embate comercial em confronto político. “O governo americano é pragmático. Cabe ao Brasil negociar com paciência, sem ilusões e sem perder de vista seus interesses. É um jogo de longo prazo, mas necessário”, concluiu.