A segunda edição do The Town chegou ao fim neste domingo, 14, e corrigiu o principal problema da primeira: a distribuição do público. Com os palcos mais espaçados, a audiência conseguiu se dividir com mais facilidade, ainda que precisasse enfrentar uma boa caminhada entre os polos The One e Skyline para tal. A distância incomodou alguns dos visitantes, mas é incontornável para eventos do porte. Para além do planejamento estratégico do espaço, a estrutura se mostrou acima do padrão também nos banheiros e na cenografia em geral, que deu ao Autódromo ar de parque de diversão.
Apesar disso, o evento esbarrou no cansaço dos festivais: mesmo com atrações badaladas, cerca de 420 mil pessoas circularam por ali nos cinco dias de festa, 80 mil a menos do que na edição de 2023. Parte disso deve-se ao line-up reciclado: nomes como Katy Perry, Green Day e Mariah Carrey, por exemplo, comandaram o Rock In Rio no ano passado. Com o curto espaço de tempo entre os shows e o preço salgado, parte do público não engajou em abrir o bolso para rever as atrações — muitas das quais apresentaram repertórios pouco diferentes.
Fora os nomes familiares, artistas conhecidos, mas não adorados pelos fãs dos headliners recorreram a covers diversos ao longo dos dias do festival para encantar o público apático e mascarar a falta de identidade bem delineada. O resgate do repertório alheio ora funciona — no caso de Gloria Groove, foi fundamental para repaginar seus próprios hits —, mas quando feito a esmo, pode só sublinhar a fraqueza do set apresentado. Quando emendou I’m Every Woman com Birds of a Feather, por exemplo, a inglesa Natasha Bedingfield transformou a própria apresentação em espécie de show de formatura. A atmosfera de estação de rádio genérica permeou os últimos três dias do festival, dedicados a vertentes mais comerciais do pop e R&B.
Enquanto o público dos primeiros dois dias foi ora intenso até demais, os visitantes do segundo final de semana se mostraram pouco interessados na música para além dos talentos principais. Shows do palco secundário The One apresentaram plateia inconsistente e às vezes pífia, como na polêmica apresentação de Duda Beat — cujo público-alvo passa longe das tietes dos Backstreet Boys. O resultado serve de alerta para uma curadoria mais atenta.
Já a aposta no trap, gênero que só cresce em popularidade entre os jovens há anos, mostrou-se um acerto da organização. O dia comandado por Travis Scott teve ingressos esgotados e público alucinado, que formou rodas punk e berrou a plenos pulmões também em apresentações de Matuê e Don Tolliver. A aposta preencheu um vazio no mercado e contemplou dezenas de milhares de devotos à sonoridade. Por outro lado, acabou denunciando falhas de fiscalização do festival: múltiplos espectadores entraram com sinalizadores, item inflamável proibido devido ao risco de queimaduras e de asfixia pela fumaça. No excelente dia seguinte, voltado para o rock, mais deles apareceram . Ninguém foi gravemente ferido pelos objetos, mas um pente mais fino é preciso para a próxima edição.
No geral, contudo, o festival cumpriu o que anunciou. É um avanço comparado à edição inaugural e se mostra promissor tanto como caça-níquel para as diversas marcas que os patrocinam, quanto para os ouvintes da música radiofônica. Apesar da queda de público, aliás, um estudo da FGV aponta que o impacto econômico do evento foi de 2,2 bilhões de reais, 500 milhões a mais que o anterior. Não há como negar que o The Town veio para ficar. A edição de 2027 já está confirmada, enquanto o Rock in Rio foi marcado para os dias 4, 5, 6, 7, 11, 12 e 13 de setembro de 2026.
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