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Terapias focais e a preservação da qualidade de vida

Ao longo de mais de três décadas como urologista e uro-oncologista, aprendi que o diagnóstico de câncer de próstata desperta, quase sempre, as mesmas preocupações nos pacientes: primeiro, claro, vem o desejo pela cura. Concomitantemente, surgem duas angústias comuns a muitos homens: a preservação da vida sexual e o medo da incontinência urinária.

Essas não são vaidades. São expressões de um desejo legítimo: tratar a doença sem perder a própria identidade, a rotina e a autonomia. E é exatamente por isso que os avanços da medicina, nos últimos anos, têm sido tão importantes. Hoje, é possível falar em tratamentos que combatem o câncer com seriedade, mas sem mutilar a vida do paciente.

Receber o diagnóstico de qualquer tipo de câncer nunca é fácil. Cada pessoa reage de um jeito, mas há um consenso: diagnosticar cedo faz toda a diferença. No caso do câncer de próstata, o diagnóstico precoce não só aumenta as chances de cura como também abre portas para tratamentos menos agressivos e muito mais respeitosos com a vida cotidiana do paciente.

Hoje, vivemos uma nova fase na medicina, que está cada vez mais personalizada, menos invasiva e mais centrada no ser humano. Nesse contexto estão as terapias focais, que permitem tratar apenas áreas específicas de um órgão afetado pela doença, sem necessidade de remover ou tratar todo o órgão. No caso do câncer de próstata, permitem tratar somente as regiões da próstata onde há tumor, preservando o restante da glândula saudável.

Neste grupo de terapias focais está o ultrassom focalizado de alta intensidade (HIFU, na sigla em inglês), técnica que utiliza ondas de ultrassom de alta intensidade, elimina (via ultrassom) ao romper membranas celulares, aquece e destrói seletivamente as células cancerígenas. O restante da glândula, saudável, permanece preservado.

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Na prática, isso se traduz em menos impactos físicos, menos efeitos colaterais e mais qualidade de vida. Por ser minimamente invasivo, o HIFU não requer cortes nem longas internações. A recuperação costuma ser rápida, e os índices de complicações são baixos: entre 1% e 2% para incontinência urinária e, para disfunção erétil, entre 5% e 15% quando o tratamento é focal. Nos casos em que toda a próstata é tratada, os índices podem chegar a 26%, ainda assim menores que os de abordagens tradicionais.

Esses números são reforçados por estudos internacionais e pela experiência prática em centros especializados ao redor do mundo. O HIFU já é aprovado por agências como a FDA (Estados Unidos), além de órgãos reguladores da Europa, Ásia e Brasil (Anvisa).

De modo geral, a técnica é recomendada para pacientes com câncer de próstata localizado, quando o tumor ainda está restrito à glândula. Além disso, o HIFU é uma alternativa para homens com comorbidades, como hipertensão, diabetes ou doenças cardiovasculares, que muitas vezes não podem se submeter a cirurgias convencionais com segurança.

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Dada a evolução constante da medicina, todos os tratamentos para diversos tipos de câncer são extremamente necessários, e muitos apresentam resultados excelentes. O arsenal de possibilidades ajuda a curar, a salvar vidas e a preservar a qualidade de vida. Aliado a isso tudo, também se deve pensar em outros desejos dos pacientes: a autonomia para escolher, em parceria com seu médico, o tipo de tratamento que quer receber. Porque, muitas vezes, os resultados podem ser o reflexo das nossas escolhas. Para todos os pacientes com câncer, mais ainda!

*Marcelo Bendhack é uro-oncologista, presidente da Associação Latino-Americana de Uro-Oncologia e professor da Universidade Positivo, em Curitiba

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