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Tensão no Oriente Médio pressiona petróleo, inflação e juros no Brasil, dizem especialistas

A escalada dos ataques entre Irã e Israel e a possível entrada dos Estados Unidos no conflito no Oriente Médio coloca em alerta nos mercados globais e já provoca efeitos nos preços do petróleo, na inflação e nas projeções para os juros no Brasil. Especialistas ouvidos por VEJA afirmam que crise geopolítica pode ter impacto direto no bolso do consumidor  aqui no Brasil e nas decisões do Banco Central.

“O barril do petróleo Brent subiu até 15%, oscilando entre US$ 71 e US$ 78. No cenário mais pessimista, com os avanços da guerra Irã-Israel, o preço pode chegar a US$ 110 a US$ 130”, afirma Nicolas Gass, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital. “Com essa alta, acredito que os combustíveis nas bombas devem ficar mais caros para o consumidor brasileiro. Embora a Petrobras ainda mantenha uma defasagem média de 6% na gasolina e 17% no diesel, essa margem de proteção pode desaparecer se o conflito se arrastar”, diz.

O movimento também afeta o câmbio. “O dólar se valoriza em meio à instabilidade global, pressionando o real. Isso deixa a importação mais cara de combustíveis e insumos, o que pode elevar ainda mais os preços no Brasil”, diz Gass. “Cada aumento de US$ 10 no petróleo pode fazer a inflação subir, na média, 0,2 ponto percentual. O impacto se reflete no transporte de cargas e na cadeia de suprimentos, pressionando a inflação. Com isso, acredito que o Banco Central deve manter a taxa Selic elevada por mais tempo para tentar controlar a alta dos preços.”

O agronegócio também entra no radar de preocupação. “O Irã é responsável por cerca de 25% das importações brasileiras de ureia, fertilizante para a agricultura. Sem dúvidas, a instabilidade pode comprometer o fornecimento, aumentando os custos de produção. O aumento do preço do diesel também eleva os gastos com transporte e máquinas agrícolas”, afirma Gass.

Para Fernando Gonçalves, especialista em investimentos e sócio da The Hill Capital, o impacto da tensão tende a se aprofundar caso os Estados Unidos se envolvam diretamente no conflito. “O principal canal de transmissão é o petróleo. Em cenários de instabilidade geopolítica, o preço do barril geralmente sobe, e como seguimos a cotação internacional, isso pode encarecer a gasolina no mercado interno.”

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Segundo Gonçalves, esse movimento pode ter reflexos importantes sobre a política monetária. “Combustíveis mais caros, sem dúvida, pressionam os custos logísticos e produtivos, o que tende a se refletir em aumentos de preços em cadeia. Esse efeito inflacionário pode levar o Banco Central a adotar uma postura mais conservadora, postergando cortes de juros ou até considerando novas altas, o que impacta o crédito, os investimentos e o consumo.”

Na quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic pela sétima vez seguida, levando os juros a 15% ao ano, maior patamar desde 2026. O Comitê apontou as incertezas com intensificação dos conflitos no cenário externo, como fator importe para sua decisão. “O comportamento e a volatilidade de diferentes classes de ativos também têm sido afetados, com reflexos nas condições financeiras globais. Tal cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes em ambiente de acirramento da tensão geopolítica”, diz o comunicado do Copom.

O economista  concorda que volatilidade tende a aumentar. “A percepção de maior risco global pode gerar volatilidade no câmbio, com possível valorização do dólar frente ao real. Em resumo, vejo um cenário que exige atenção redobrada. Os efeitos podem ser inicialmente indiretos, mas ganham força conforme a escalada do conflito e sua duração”, afirma.

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