Amazônia passa por um rápido aumento dos eventos climáticos extremos na sua porção centro-oeste. Um novo relatório, lançado poucas semanas antes da COP 30, aponta que a região esquentou pelo menos 0,77 °C, por década, e mais de 3,31 °C desde 1981. A descoberta faz parte dos resultados de um estudo liderado por pesquisadores da Universidade de Lancaster, com a colaboração de mais de 50 cientistas internacionais e da WWF-UK. O relatório fornece uma avaliação abrangente e atualizada das mudanças climáticas. É um aumento maior que a média do planeta, calculado em 0,21 °C por década. Se a incidência de eventos climáticos extremos continuarem, os cientistas temem que, se esses aumentos rápidos possam colocar a Amazônia em risco, ultrapassando limites críticos.
Ao dividir a Amazônia em células de 11 km e usar dados de alta resolução sobre temperatura e precipitação, provenientes de fontes que combinam informações de satélites e estações meteorológicas locais, os pesquisadores conseguiram identificar as estações secas para cada área individual da Amazônia. Esses dados como nova medida do déficit hídrico, que leva em conta os efeitos da temperatura na perda de água. A partir daí os pesquisadores modelaram as mudanças de temperatura e também o estresse hídrico em toda a Amazônia nos últimos 43 anos
A temperatura e a perda de umidade foram registradas como médias da estação seca ou de todo o ano hidrológico (estações seca e chuvosa combinadas). Para avaliar mudança, o estudo usou dois métodos. Primeiro, enfatizou as taxas médias de mudança de temperatura e déficit hídrico ao longo de todos os anos. Em segundo lugar, aplicou a tendência extrema, que enfatiza os anos mais excepcionais, o que dá indicação precisa do comportamento nos períodos mais quentes ou mais secos. “Estamos mais interessados no período quente e seco, pois é quando os danos causados pelas altas temperaturas podem ser maiores”, disse o professor Jos Barlow, da Universidade de Lancaster, principal autor do relatório. “Embora isso tenha sido avaliado na Amazônia Meridional, que compartilha uma estação seca bastante semelhante, nunca foi avaliado em toda a Amazônia – que inclui regiões ao norte do Equador que são úmidas, quando o Sul está seco e vice-versa.”
O Arco do Desmatamento –
A Amazônia Sul, que sofreu um desmatamento significativo e mudanças no uso da terra, é confirmada como a região que mais se aquece quando se analisa as mudanças na temperatura média. No entanto, o centro-norte da Amazônia é identificado como a região que apresenta o crescimento mais rápido em termos de extremos climáticos. “As taxas de mudança nos extremos climáticos são muito mais altas do que as taxas de mudança do clima médio na Amazônia, e as regiões mais afetadas também são diferentes para extremos e clima médio”, disse Nathália Carvalho, pesquisadora do Cento Climático de Lancaster .“Isso mostra que o clima amazônico não está mudando uniformemente.” Essas informações serão cruciais no planejamento e na implementação de estratégias de adaptação às mudanças climáticas.
O clima extremo é uma preocupação primordial, contribuindo para incêndios florestais, níveis excepcionais nos rios, poluição do ar e altas temperaturas que podem prejudicar as pessoas, os animais e as árvores da floresta. “As taxas de mudança que estamos vendo nas regiões mais afetadas são alarmantes”, disse Barlow. O que mais chama a atenção é a informação que a área que passa pelo crescimento mais rápido de aumentos extremos de temperatura está longe do Arco de Desmatamento. Não são explicadas por mudanças locais, como o desmatamento e as mudanças no uso da terra, mas afetada pelas mudanças climáticas globais. “As emissões mundiais são responsáveis por isso”, completa Barlow.
Manter a floresta em pé não é suficiente para evitar a exposição aos extremos climáticos. As secas consecutivas de 2023 e 2024, trouxeram falta de pesca, remédios, e pasmem, água de qualidade”, declara Helga Correa, especialista em Conservação do WWF-Brasil. Há evidências de que os extremos climáticos estão afetando a região, incluindo a primeira morte em massa observada de mamíferos na Amazônia, onde preguiças e outros mamíferos foram encontrados no chão da floresta ou pendurados mortos em árvores, reduções no tamanho das populações de aves e mudanças em sua expectativa de vida, aparência e comportamento.
A região também sofreu extensos incêndios florestais, com o calor extremo e a seca contribuindo para a poluição do ar na cidade amazônica de Manaus, e o ressecamento dos rios afetou a saúde das pessoas que vivem nas florestas. Para Joice Ferreira, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), há preocupações sociais: “Os eventos climáticos extremos impactam os meios de subsistência locais de várias maneiras, como, o açaí.” Perder a atividade econômica significa ameaça a segurança alimentar, o enfraquece seu papel em uma socioeconomia em crescimento. O mais preocupante é que isso pode prejudicar as políticas públicas, que, atualmente, estão sendo elaboradas e implementadas pelos governos federal e estaduais para promover uma transformação positiva na região, por meio de planos de restauração florestal. Esse cenário exige uma ação global para deter as mudanças climáticas em nome da justiça climática.
Leia:
+https://veja.abril.com.br/mundo/desmatamento-matou-meio-milhao-de-pessoas-nos-ultimos-20-anos-diz-estudo/
+https://veja.abril.com.br/agenda-verde/desmatamento-chuvas-amazonia-estudo/