Faltando cinco dias para o início da aplicação de novas tarifas sobre produtos exportados para os Estados Unidos, o Brasil segue sem perspectiva de fechar um acordo com Donald Trump e se vê frustrado no esforço de adiar o início da taxação. Neste domingo, 27, o presidente americano afirmou que o prazo de “1º de agosto é para todos”, o que joga por terra o objetivo de empresários e representantes brasileiros ganharem tempo enquanto buscam algum sucesso na negociação.
Em 9 de julho, Trump anunciou uma taxação de 50% sobre todos os itens importados do país. Desde então, auxiliares palacianos tentam abrir algum canal com a Casa Branca em busca de reverter a medida. Até aqui, o principal contato se deu entre o vice-presidente Geraldo Alckmin, alçado a negociador oficial do governo, e o secretário de Comércio Howard Lutnick, em conversa telefônica na última quinta-feira, 24. Do encontro, Alckmin relatou apenas ter tido uma conversa “proveitosa” na qual foi ressaltado o interesse do Brasil em negociar.
Em reuniões com empresários, o vice vinha defendendo um prazo adicional de 60 a 90 dias para o início da cobrança. Sem acesso a interlocutores da Casa Branca, o governo brasileiro tentou uma reação em cadeia, pedindo aos comerciantes brasileiros buscarem contato com importadores americanos para ressaltar o prejuízo com a taxação e convencê-los a pressionar o governo Trump do impacto negativo da medida.
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Nesta segunda-feira, 28, uma comitiva formada por oito senadores brasileiros terá suas primeiras agendas em solo americano com o objetivo de tratar do tarifaço. Pela manhã, o encontro será na residência oficial de Maria Luiza Viotti, embaixadora do Brasil em Washington, e contará com a presença de outros diplomatas.
À tarde, os congressistas participam de reuniões na Câmara Americana de Comércio ao lado de lideranças empresariais. Conforme material divulgado pelo senador Nelsinho Trad (PSD-MS), haverá um painel específico para que sejam discutidos, além das tarifas, mecanismos de defesa comercial e perspectivas legislativas entre os dois países.
Acordos que saíram do papel
Neste domingo, Estados Unidos e a União Europeia anunciaram um rascunho de acordo comercial para evitar um tarifaço de 30% sobre os produtos europeus importados pelos americanos. Pelo esboço inicial, o imposto sobre exportações da União Europeia aos Estados Unidos será elevado dos atuais 10% para 15% sobre todos os produtos. Em contrapartida, o bloco europeu se compromete a investir até 750 bilhões de dólares no setor de energia americano — o que pode incluir, por exemplo, a compra de petróleo bruto ou combustíveis refinados.
O encontro entre Trump e a presidente Ursula von der Leyen ocorreu cerca de duas semanas após a Casa Branca anunciar tarifas adicionais sobre as importações europeias, com entrada em vigor prevista para a próxima sexta-feira, 1º. Apesar da modulação dos EUA em relação ao tarifaço, o acordo mantém os impostos de 50% sobre importações de aço e alumínio da Europa e não isenta o setor farmacêutico, um dos principais alvos da guerra comercial de Trump, de ser atingido por tributos mais altos.
Na quarta-feira, 23, o presidente republicano anunciou um pacto “histórico” com o Japão pelo qual foram definidas tarifas recíprocas de 15% – em julho, Trump anunciou uma taxação de 25%. O acordo prevê, também, um investimento de 550 bilhões de dólares dos japoneses nos Estados Unidos. Estão previstas a exportação de aeronaves e de produtos agrícolas.
Outros países que já lograram algum êxito nas negociações com a Casa Branca são Indonésia, Vietnã, China e Reino Unido.