O tarifaço de 50% imposto pelo governo de Donald Trump a mais da metade das exportações brasileiras para os Estados Unidos promete mexer nas engrenagens da economia brasileira já em 2025. Embora, à primeira vista, a medida tenha potencial para reduzir alguns preços domésticos, sobretudo de alimentos e bens que não encontrarem mercado alternativo, especialistas alertam que o efeito será temporário e poderá se inverter já em 2026.
A sobretaxa atinge uma ampla lista de produtos, incluindo café, carnes, frutas, peixes, máquinas e equipamentos. “A redução das exportações, num primeiro momento, pode aumentar a oferta de produtos no mercado brasileiro, favorecendo o recuo da inflação”, afirma André Braz, economista e coordenador do FGV Ibre.
No cenário de curto prazo, a lógica é simples: mais oferta no mercado interno tende a reduzir preços. Carnes e café, por exemplo, podem sofrer menor recuo, já que seus exportadores sinalizam buscar novos destinos para a produção. Outros itens, como frutas e pescados, enfrentam mais dificuldades de reposicionamento no comércio exterior, o que deve gerar descontos maiores ao consumidor brasileiro.
Se, em 2025, a expectativa é de um impacto baixista sobre a inflação, o horizonte de 2026 é bem menos previsível.
“Esse efeito não deve durar para sempre. Num segundo momento, a indústria vai redimensionar a produção, ofertando menos, o que evitará quedas maiores de preços”, completa.
Apesar do possível alívio inflacionário, a medida tende a esfriar a atividade econômica. “Apesar de parecer contraditório, o tarifaço pode sim gerar uma pressão desinflacionária ao esfriar a atividade econômica e comprimir a demanda. Porém, esse tipo de ‘controle de inflação’ vem acompanhado de recessão, desemprego e queda no investimento. É um remédio amargo com efeitos colaterais piores que a própria doença”, avalia Pedro Ros, CEO da Referência Capital.
Esse desaquecimento previsto pelos economistas ocorre porque empresas atingidas pelas sobretaxas tendem a reduzir o ritmo de produção diante da perda de competitividade e da dificuldade em escoar a produção. Com isso, diminuem contratações, adiam investimentos e, em casos mais extremos, cortam postos de trabalho, afetando diretamente a renda e o consumo das famílias. Esse círculo vicioso tende a prolongar a fraqueza econômica e dificultar a recuperação do crescimento.
“O risco é de termos um 2025 com desinflação técnica, mas à custa de uma economia travada. Em 2026, a conta pode vir em forma de inflação mais alta e desemprego”, diz Braz.