A indefinição sobre quem será o herdeiro político do ex-presidente Jair Bolsonaro está imobilizando a direita e entregando terreno eleitoral para o governo Luiz Inácio Lula da Silva, avalia o colunista Robson Bonin, editor de Radar.
Em entrevista ao programa Ponto de Vista, apresentado por Marcela Rahal, Bonin analisou os dados da nova pesquisa Paraná Pesquisas, que mostram Tarcísio de Freitas (23%) e Michelle Bolsonaro (21,3%) empatados tecnicamente como principais nomes para representar o bolsonarismo em 2026 — seguidos por Ratinho Júnior (12,6%), Flávio Bolsonaro (6%), Ronaldo Caiado (5,3%) e Romeu Zema (3,9%).
“Essa divisão é reflexo direto da hesitação do ex-presidente Jair Bolsonaro em largar o osso. Ele resiste a indicar alguém como sucessor porque sabe que, no momento em que fizer isso, deixa de ser relevante na política”, afirmou Bonin.
“A vida real já marchou”
Segundo o colunista, Bolsonaro mantém uma ilusão política ao acreditar que ainda é um ator central. “Na cabeça dele, se fosse elegível, seria o candidato com mais votos em 2026. Mas isso é apenas uma fantasia. A vida real já marchou. A próxima notícia sobre ele será sobre prisão ou problemas de saúde”, disse.
Bonin acrescenta que, sem o ex-presidente como candidato, a direita se tornou refém da indecisão e das disputas internas. “Enquanto o núcleo mais próximo de Bolsonaro acredita que adiar a sucessão mantém o mito vivo, o Centrão já entendeu que é preciso virar a página. O problema é que ninguém tem coragem de fazê-lo abertamente.”
Michelle ou Tarcísio? A disputa interna
A pesquisa revela um impasse dentro do bolsonarismo. De um lado, Michelle Bolsonaro, que deve disputar o Senado pelo Distrito Federal, continua sendo um símbolo emocional do bolsonarismo raiz. De outro, Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, tenta equilibrar a lealdade ao ex-presidente com uma imagem de gestor técnico e moderado.
“Tarcísio tem o apoio do Centrão, mas pisa no freio por causa da briga dentro do clã Bolsonaro. Michelle, por outro lado, é forte na base mais fiel, mas enfrenta resistência de políticos experientes que temem sua falta de preparo para uma disputa nacional”, explicou Bonin.
Um eleitorado órfão
Bonin avalia que, enquanto a direita se divide, uma fatia considerável do eleitorado segue órfã de representação. “As pesquisas mostram que há milhões de eleitores que não se identificam nem com Lula nem com o bolsonarismo. Esse público quer um projeto de país, e ninguém está oferecendo isso”, afirmou.
Para ele, a eleição de 2026 ainda é uma incógnita, mas o campo conservador sai em desvantagem se continuar preso ao passado.
“Vai vencer quem conseguir apresentar uma visão de futuro. A direita ainda discute o que fazer com Bolsonaro, enquanto o Lula já ocupa o centro do palco. O futuro da oposição está travado pela hesitação do ex-presidente”, concluiu Bonin.