O Afeganistão enfrenta um ‘apagão’ generalizado no acesso à internet nesta terça-feira, 30, após autoridades do Talibã determinarem o bloqueio de diversas redes. As informações foram divulgadas pela emissora americana CNN e corroboram uma declaração emitida pelo governo no início deste mês, quando a facção islâmica radical prometeu cortar a conexão dos cidadãos “para evitar atividades imorais”.
Segundo a organização internacional de monitoramento do acesso à internet Netblocks, as redes começaram a ser desconectadas na noite desta segunda-feira, 29, assim como os serviços de telefonia. O episódio resultou em isolamento severo de grande parte dos 43 milhões de afegãos, muitos com parentes no exterior.
“Desde ontem, não há comunicação com ninguém”, afirmou à CNN o afegão Mohammed Hadi, que mora em Nova Déli, na Índia, e perdeu contato com familiares. “Não há como conversar para ter certeza de que eles estão seguros”, conta.
O episódio também afetou a atuação da imprensa local e internacional. As agências de notícia Associated Press e AFP declararam ter perdido contato com seus escritórios em Cabul, enquanto a emissora afegã Tolo News informou que suas operações foram ‘gravemente afetadas’ pela paralisação.
Em comunicado, o governador da província de Balkh, Haji Zaid, disse que a ordem para o bloqueio foi dada pelo líder supremo do Talibã, Mawlawi Haibatullah Akhundzada. Ele informou, ainda, que um “sistema alternativo será estabelecido no país para atender às necessidades essenciais”.
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Talibã no poder
Esse é o mais extenso e coordenado desligamento de telecomunicações desde que o Talibã reassumiu o controle do Afeganistão em 2021. A medida gera temores de que seja um passo em direção às severas restrições existentes em seu governo anterior, quando diferentes dispositivos de comunicação eram proibidos em nome da luta contra a imoralidade.
Desde que retornou ao poder, o Talibã vem fechando o cerco aos direitos das mulheres, que foram proibidas de frequentar a escola para além do sexto ano. Muitas recorriam a aulas online fornecidas por instituições ou educadores internacionais, uma atividade que terá de ser interrompida devido ao corte na conexão.
Após a nova restrição da facção, a gerente de comunicações da organização de direitos das mulheres Woman for Afghan Women, Sabena Chaudry, alertou que o apagão “não está apenas silenciando milhões de afegãos, mas também extinguindo sua linha de vida para se conectar com o mundo exterior”.