No Maranhão, o salário de um juiz estadual da primeira instância pode ultrapassar 678 mil reais em um único mês, o equivalente a 53 vezes a renda média de toda a população maranhense. O caso é extremo, mas não isolado — dados do inédito estudo Índice de Disparidade Salarial, publicados nesta semana pelo Instituto Livres, revelam um flagrante quadro de supersalários nas altas castas do funcionalismo público que atinge todas as esferas de governo no Brasil.
A pesquisa calculou a disparidade salarial a partir da diferença entre a remuneração bruta de autoridades e a renda domiciliar per capita da população que representam. Os casos mais profundos de desigualdade estão nos Judiciários estaduais: além do exemplo maranhense, os juízes de primeira instância podem ganhar até 43,5 vezes o salário do cidadão comum em Alagoas, 43,27 vezes no Acre e 42,22 em Rondônia.
Também no Norte e no Nordeste encontram-se as maiores discrepâncias nas Assembleias Legislativas, onde os salários mensais variam entre 33 mil e 35 mil reais. Os mais altos índices de disparidade salarial entre deputados estaduais e a população estão no Maranhão (31,06), Amazonas (28,09), Ceará (26,94), Alagoas (26,13), Piauí (25,76) e Bahia (25,46). Em relação ao Legislativo federal, a remuneração de um deputado federal maranhense chega a 40 vezes a renda de seus eleitores.
“A desigualdade não é novidade no Brasil, mas os dados mostram que o setor público, em vez de corrigir, reproduz e aprofunda as distorções. O estudo revela um problema estrutural e simbólico de representatividade”, avalia Magno Karl, diretor executivo do Instituto Livres.
Brasil tem terceira maior desigualdade salarial entre presidentes e população
No Brasil, o salário do presidente da República é de 44.008 reais, mais de 21 vezes a renda domiciliar per capita da população de 2.069 reais. O índice de disparidade salarial de 21,17 é um dos mais altos entre os 17 países avaliados, atrás apenas da África do Sul (22) e do México (24,58) e muito acima de economias desenvolvidas como Japão (3,8), Reino Unido (6,33) e Estados Unidos (7,82).
Mesmo na comparação entre vizinhos latino-americanos, o Brasil supera com folga os índices de disparidade de países como Argentina (9,19), Chile (10,34) e Uruguai (15,82). A diferença brasileira ultrapassa tanto a média dos países emergentes (16,05) quanto a de todas as economias analisadas (10,20).