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Sufoco: tática de deixar Maduro com medo é parte de guerra psicológica

Não olhe para cima agora, Nicolás Maduro, mas em dez, nove, oito, sete… Não, Donald Trump não vai mandar um míssil explodir na cabeça do ditador venezuelano. Está, na verdade, seguindo o manual da guerra psicológica no capítulo em que a expectativa de uma intervenção leva atores políticos a antecipar seus efeitos deletérios. Em outras palavras: talvez vários poderosos venezuelanos estejam considerando a hipótese de mudar de barco.

Vejamos o exemplo da reportagem do New York Times onde consta que Trump autorizou a CIA a fazer operações encobertas na Venezuela. Não foi um furo investigativo, muito ao contrário. Foi uma plantação planejada para ter exatamente o efeito alcançado: espalhar-se por todo o mundo e criar a possibilidade potencial de que uma intervenção direta em território venezuelano esteja muito próxima.

Operações encobertas são envoltas em grande segredo, mesmo entre os próprios envolvidos, e não vazadas para o New York Times – e depois alegremente confirmadas pelo próprio Trump. Mas operações de propaganda têm exatamente o objetivo de deixar seu alvo sem chão. Ou sem cabeça, provocando reações desesperadas como o apelo de Maduro a “um grande entendimento político” com os Estados Unidos, um caso típico do clássico too little, too late. O Miami Herald disse que a vice Delcy Rodríguez e seu irmão, Jorge Rodríguez, presidente da Assembleia Nacional, já estão se posicionando como alternativa de sucessão.

O fato de que tantos comentaristas americanos tenham comprado integralmente, pelo valor de face, a reportagem do New York Times indica apenas que muitos se consideram mais inteligentes do que Donald Trump. Da perspectiva desses analistas que execram Trump, o presidente é um ser bruto e primitivo que agora resolveu tomar o petróleo da Venezuela todinho ou reviver a época da Guerra Fria, em circunstâncias completamente diferentes – sem esquecer que, falando sobre seu primeiro governo, Trump já disse que a Venezuela estava a ponto de desabar e “nós teríamos ficado com todo aquele petróleo”, mas Joe Biden vacilou. Que ele seja capaz de jogadas estratégicas parece inconcebível a esses analistas.

HISTÓRICO DE ERROS

Ou que tenha uma preocupação real em interromper o fluxo de drogas que vem do complexo Peru-Colômbia-Venezuela – uma intervenção que tem 70% de apoio da opinião pública. “Por que não usar a Guarda Costeira para deter os barcos narcoterroristas em vez de atacá-los com mísseis?”, perguntou um repórter a Trump. “Porque passamos trinta anos fazendo isso e foi totalmente ineficaz”, respondeu o entrevistado.

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É fato que o governo Trump tem seguido um roteiro de confrontos crescentes, já com seis narcolanchas pulverizadas, e ainda não é fácil divisar como terminarão esses ataques, numa área onde a força-naval enviada por Trump tem o pleno controle do teatro de operações.

Quem disser que sabe como a escalada vai terminar estará se dedicando ao campo da especulação. Mas é razoável conjecturar sobre o que não vai acontecer. Usemos como padrão o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, notoriamente ineficaz em qualquer análise que faça.

“A política que os Estados Unidos impõem à Colômbia tem como consequência próxima uma possível invasão à República da Venezuela”, disse Petro “Será responsabilidade minha se caírem mísseis lá ou se, como anunciaram, começar por terra uma atividade violenta de agentes da CIA ou de marines ou de mísseis sobre a população civil desarmada, seja da cadeia do narcotráfico ou não seja, se estará contrariando a resolução da Comissão de Direitos Humanos da ONU”.

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Devido ao histórico de erros crassos, é possível especular que nada disso irá acontecer. Mas talvez seja exatamente isso que a inteligência americana queira que Maduro pense.

TRANSIÇÃO NÃO TRAUMÁTICA

O tiranete venezuelano não deve ser subestimado: demonstrou, mais ainda do que se esperava, que tem uma extraordinária capacidade de articular apoios e cooptar os militares estrelados – ou ensolarados, uma vez que sua divisa é um sol, daí o nome do cartel que comandam. Hugo Chávez morreu há doze anos, graças às conquistas da medicina cubana no tratamento de seu câncer, e Maduro conseguiu não só sobreviver como expandir o controle ditatorial que exerce sobre o país, inclusive com a promoção de eleições terminalmente farsescas.

Mesmo escandalosamente roubadas, as eleições tiveram uma vantagem: indicaram que a Venezuela tem uma alternativa de poder imediata.

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No caso de queda do regime, Edmundo González poderia voltar do exílio na Espanha e ser confirmado como presidente eleito legítimo. A Nobel da Paz María Corina Machado emergiria dos espaços paralelos que é obrigada a ocupar e seria uma peça fundamental na redemocratização. Os generais que mudassem de lado seriam anistiados para permitir uma transição não traumática.

Maduro teria a alternativa do exílio. Quem sabe um Uber FAB o traria para a terra dos tolos espertalhões? Ou talvez ele preferisse as delícias do regime cubano, apesar do risco de que a coisa por lá também esteja degringolando, com a desvantagem de que a desconstrução foi tão grande que não existam alternativas de poder já prontas, como na Venezuela. Quem sabe Moscou é mais garantida – não obstante a boataria de que outro hóspede especial, o sírio Bashar Assad, sofreu uma recente tentativa de envenenamento.

Até lá, cuidado ao olhar para cima, Maduro. Vai que um B-52 está fazendo um sobrevoo. Os bichões levam até 31 toneladas de munição, incluindo vinte mísseis de cruzeiro. É míssil para danar.

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