O STF inicia nesta segunda, 2, o julgamento mais importante desde a redemocratização. A primeira tentativa de golpe de Estado no Brasil será analisada pela Corte e a dimensão inédita do processo, que envolve um ex-presidente e cinco militares de alta patente, coloca o Supremo sob uma vigilância implacável. Como informado na coluna, trata-se de um divisor de águas na história brasileira, com repercussões que ultrapassam nossas fronteiras.
Desde 2002, quando o ministro Marco Aurélio Mello criou a TV Justiça para transmitir as sessões ao vivo, os ministros já não podiam se dar ao luxo da informalidade. O próprio Marco Aurélio brincava que a novidade os obrigou a “escolher melhor as gravatas”. Agora, porém, a lupa é muito mais pesada. Todo e qualquer movimento, palavra, vírgula, gesto ou silêncio será escrutinado.
O impacto já é visível no tabuleiro político. Como registrou Marcelo Ribeiro na coluna Radar, deputados e senadores discutem se o foco no STF paralisará o Congresso ou, ao contrário, abrirá espaço para pautas impopulares. Mesmo fora de sua jurisdição, o Supremo já pauta o Legislativo.
Na segurança, o alerta é máximo. Apuração de Marcela Rahal revelou que o secretário do DF, Sandro Avelar, teme “lobos solitários” e reforçou o policiamento em torno da Praça dos Três Poderes. Não se trata apenas de julgar o passado, mas de evitar que o presente descambe novamente para a violência.
Diante de pressões externas, inclusive dos Estados Unidos, o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, garantiu que o julgamento ocorrerá “sem interferências”.
O mesmo Barroso enxerga nesta decisão a oportunidade de “encerrar ciclos do atraso”, a velha prática de quem perde tentar mudar as regras do jogo.
A imprensa internacional já colocou o Brasil no centro do debate democrático. A revista The Economist destacou a relevância histórica deste julgamento em contraste com a hesitação americana após a invasão do Capitólio. Aqui na VEJA, como antecipou José Benedito na coluna Maquiavel, haverá cobertura especial, demonstrando que este é um daqueles raros momentos em que a história se escreve ao vivo, diante das câmeras e sob o crivo da opinião pública global.