Rom Braslavski, um dos vinte reféns israelenses que voltaram com vida às suas casas após serem libertos como parte do acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, denunciou na noite de quinta-feira 6 que sofreu abuso sexual durante o cativeiro no enclave palestino. Em entrevista ao programa Hazinor, do Canal 13 de Israel, o jovem de 21 anos descreveu ter sido despido e amarrado por terroristas da Jihad Islâmica Palestina, grupo aliado ao Hamas.
“Foi violência sexual, e seu principal objetivo era a humilhação. Eles queriam me humilhar, destruir minha dignidade”, disse Braslavski.
Ele é o primeiro homem que sobreviveu ao cativeiro a alegar ter sofrido abuso sexual. Pelo menos quatro mulheres mantidas como reféns vieram a público sobre supostos incidentes contra elas mesmas ou contra outras prisioneiras, segundo a agência de notícias Reuters.
O relato
Rom Braslavski estava de licença do serviço militar israelense e trabalhava como segurança no festival de música Nova quando terroristas atacaram o sul de Israel em 7 de outubro de 2023, matando cerca de 1.200 pessoas e fazendo 251 reféns. As forças do país responderam com uma campanha militar em Gaza que matou mais de 68.800 pessoas, segundo o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas.
Na entrevista ao Canal 13, transmitida na noite de quinta-feira, ele contou que passou a ser tratado de maneira mais violenta pelos captores depois que se recusou a se converter do judaísmo ao islamismo em março deste ano, época em que o cessar-fogo que então estava em vigor também entrou em colapso. Como represália, Braslavski disse que foi vendado por três semanas inteiras, durante as quais também teve pedras enfiadas nos ouvidos, para limitar sua audição, e viu suas rações de comida e água reduzidas.
Foi então, ele contou na entrevista, que os membros da Jihad Islâmica receberam o que descreveram como uma ordem para torturá-lo. Braslavski disse que o amarraram, o socaram e o chicotearam com um cabo de metal – e que isso se repetiu várias vezes ao dia. “Entrei num ciclo vicioso do qual duvidava que sairia vivo”, recordou.
Meses depois, em agosto, a Jihad Islâmica Palestina publicou um vídeo em que o jovem aparecia chorando e dizendo que estava sem comida e água, não conseguia ficar de pé nem andar e estava “à beira da morte”. Após a publicação do vídeo, Braslavski afirmou que seus captores também começaram a cometer abuso sexual contra ele.
“Eles me despiram completamente, tiraram minhas roupas, minhas roupas íntimas, tudo. Me amarraram… Quando estava completamente nu, exausto, morrendo de fome, rezei a Deus: ‘Me salve, me tire daqui logo’”, disse ele. Quando perguntado no programa se seus captores fizeram “mais coisas assim”, o jovem respondeu: “Sim. É difícil para mim falar especificamente sobre essa parte. Não gosto de falar sobre isso. E é difícil. Foi uma coisa horrível.”
Ele acrescentou: “Você só reza a Deus para que isso pare.”
Reações
O presidente israelense, Isaac Herzog, disse que Braslavski demonstrou “coragem extraordinária ao compartilhar os horrores de seu cativeiro, incluindo um horrível abuso sexual que sofreu”.
“O mundo precisa entender a dimensão dos crimes cometidos pelos terroristas em Gaza: crueldade hedionda, violência sexual e abuso”, escreveu ele no X (ex-Twitter).
Um oficial da Jihad Islâmica Palestina disse à agência de notícias Reuters que a alegação de abuso sexual de Braslavski era “incorreta”, sem dar mais detalhes.
Uma equipe de especialistas liderados por Pramila Patten, representante especial da ONU sobre violência sexual em conflitos, informou em março de 2024 que encontrou “informações convincentes” de estupro e tortura sexual contra alguns reféns em Gaza. O grupo também disse ter evidências violência sexual em vários locais, incluindo estupro coletivo, durante os ataques de 7 de outubro de 2023. O Hamas afirmou que as conclusões do relatório eram “infundadas”.
Um relatório separado, elaborado por uma comissão de inquérito da ONU em março deste ano, concluiu que Israel “empregou cada vez mais violência sexual, reprodutiva e outras formas de violência de gênero contra palestinos”, com “desnudamento público forçado, assédio sexual, incluindo ameaças de estupro, bem como agressão sexual”. Israel também classificou as alegações como “infundadas”.
Na semana passada, Yifat Tomer-Yerushalmi se demitiu do cargo de procuradora-geral do Exército de Israel após admitir estar por trás do vazamento de um vídeo que mostra soldados israelenses abusando de um detento palestino em uma base militar no ano passado. O detento teria sido supostamente esfaqueado no reto, e cinco soldados foram acusados em relação ao incidente. Tomer-Yerushalmi, por sua vez, foi detida em 3 de novembro e colocada em prisão domiciliar nesta sexta.