O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, chegou a Londres nesta segunda-feira, 8, para uma reunião com os líderes do Reino Unido, França e Alemanha, cuja pauta principal será a mais recente proposta elaborada pelos Estados Unidos para encerrar o conflito com a Rússia. Os planos iniciais exigiam uma série de concessões por parte de Kiev e foram considerados por analistas e lideranças europeias como pró-Moscou.
Dias de negociações na Flórida entre autoridades americanas e ucranianas terminaram no sábado 6 sem avanço aparente. Zelensky classificou as discussões como “construtivas, embora não fáceis”.
Na noite de domingo, o presidente americano, Donald Trump, disse que seu homólogo ucraniano “ainda não leu a (nova) proposta” e afirmou, sem provas, que a delegação da Ucrânia “a adora”. O principal negociador de Kiev, Rustem Umerov, disse que Zelenskyy será informado sobre a mais rodada de conversas nesta segunda.
“Acredito que a Rússia concorda com o acordo, mas não tenho certeza se Zelensky concorda. Sua equipe o adora. Mas ele não está pronto”, afirmou Trump no domingo.
Após o cessar-fogo em Gaza, também patrocinado por Trump, os Estados Unidos têm trabalhado para aprovar um acordo de paz entre Kiev e Moscou. Autoridades americanas afirmam estar na fase final de negociações, mas há poucos indícios de que Ucrânia e Rússia estejam dispostas a assinar um texto preliminar elaborado por Washington.
Um funcionário do governo ucraniano familiarizado com as últimas discussões disse à agência de notícias AFP que a “questão mais problemática” continua sendo as concessões de terras. “(Vladimir) Putin não quer entrar em um acordo sem território. Portanto, estamos buscando todas as opções para garantir que a Ucrânia ceda território”, disse o oficial, que pediu anonimato para discutir os temas sensíveis.
A fonte acrescentou: “Os americanos estão pressionando, tipo ‘mais rápido, mais rápido, mais rápido’. Não podemos concordar com tudo sem acertar os detalhes.”
Busca de apoio
Zelenskyy será recebido no número 10 de Dowining Street, em Londres, pelo primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, juntamente com o líder alemão, Friedrich Merz, e o presidente francês, Emmanuel Macron, para discutir as negociações.
A chanceler britânica, Yvette Cooper, também deve chegar a Washington nesta segunda, onde se reunirá com seu homólogo americano, Marco Rubio. “O Reino Unido e os Estados Unidos reafirmarão seu compromisso em alcançar um acordo de paz na Ucrânia”, disse o Ministério das Relações Exteriores do país ao anunciar a visita de Cooper.
Os contatos diplomáticos mais recentes vêm na esteira de uma preocupação generalizada com a proposta de paz inicial do governo Trump, vista por muitos como favorável às exigências maximalistas a Rússia, apesar dela ser a agressora. O plano original envolvia a cessão de territórios por parte da Ucrânia, inclusive alguns que as forças russas não conseguiram conquistar no campo de batalha, em troca de garantias de segurança sem quaisquer detalhes — exceto pelo fato de vetar a adesão de Kiev à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Pressionado, Zelensky olha para os aliados na Europa em busca de apoio. Starmer enfatizou repetidamente que a Ucrânia deve determinar seu próprio futuro e afirmou que uma força de paz europeia, que em tese envolveria soldados britânicos e franceses, desempenharia um “papel vital” para garantir a segurança do país.
O presidente russo, Vladimir Putin, não expressou apoio público ao plano da Casa Branca e, na semana passada, disse que alguns aspectos da proposta de Trump eram inviáveis. Os enviados americanos Steve Witkoff e Jared Kushner se reuniram com ele no Kremlin na terça passada, mas não conseguiram chegar a um consenso.
“Os representantes americanos conhecem as posições básicas da Ucrânia”, disse Zelensky em seu pronunciamento por vídeo na noite de domingo.
O enviado especial de Trump para a Ucrânia, Keith Kellogg, afirmou em um fórum de defesa no sábado que os esforços do governo para encerrar a guerra estavam nos “últimos metros”. Ele disse que havia duas questões pendentes: o território e o destino da usina nuclear de Zaporizhzhia.
Diplomacia aos trancos
Desde que retornou à Casa Branca, Trump nutre uma relação turbulenta com Zelensky. Entre acenos e pressões, tem instado os ucranianos a cederem território à Rússia para pôr fim a um conflito que, segundo ele, já custou vidas demais.
O presidente da Ucrânia afirmou no sábado ter tido um “telefonema substancial” com a delegação americana envolvida nas negociações na Flórida. Ele disse ter recebido uma atualização por telefone sobre as conversas e garantiu que seu país “está determinado a continuar trabalhando de boa-fé com o lado americano para alcançar a paz verdadeira”.
Um dia antes, a Casa Branca divulgou sua nova estratégia de segurança nacional, que detalha as principais diretrizes de política externa dos Estados Unidos. O documento afirma o desejo de melhorar seu relacionamento com a Rússia e também foi bastante crítico em relação aos países europeus, alertando que o continente corria o risco de um “apagamento civilizacional”. No domingo, Moscou comemorou o texto, e o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que a estratégia americana está alinhada com a visão russa.