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Sob governo de direita, Bolívia anuncia fim de subsídios a combustíveis após duas décadas

O presidente da Bolívia, Rodrigo Paz, anunciou nesta quarta-feira, 17, o fim dos subsídios a combustíveis. Desde 2023, o país tem enfrentado longos períodos de escassez nos postos, enquanto motoristas aguardam por horas, ou até mesmo dias, em filas quilométricas. O direitista, eleito em outubro após 20 anos de esquerda no país, também afirmou que a medida abriu espaço para esquemas de corrupção com danos milionários. Ao lado de ministros do governo, ele anunciou um pacote de medidas econômicas como parte da “decisão histórica para salvar a nação”.

“Com a publicação deste decreto, serão anunciados os novos preços dos hidrocarbonetos (…). A eliminação de subsídios mal concebidos do passado não significa abandono. Significa ordem, justiça e redistribuição transparente”, disse em pronunciamento televisionado.

“Os subsídios que foram usados ​​para encobrir a pilhagem não condenarão a Bolívia novamente. A estabilização de preços (…) nos permitirá gerar recursos fiscais adicionais”, acrescentou ele.

Logo depois da posse presidencial, em novembro, Paz afirmou que a esquerda mergulhou o país em um “esgoto de dimensões extraordinárias”. Na época, ele anunciou a abertura de investigações para identificar os responsáveis pela suposta corrupção. Ele também encerrou os impostos sobre grandes fortunas — uma medida que, segundo ele, foi responsável pela fuga de US$ 2 bilhões (cerca de R$ 11 bilhões na cotação atual) do país desde que foi implementada há cinco anos.

Nesta quarta, o líder boliviano declarou “estado de emergência econômica, financeira, energética e social, porque a Bolívia não podia continuar funcionando com os padrões dos últimos 20 anos” e adiantou que irá “simplificar os impostos, oferecer incentivos para a compra de máquinas e muito mais”, acrescentando: “Vamos apoiar os empreendedores e liberalizar as exportações”. A Bolívia lida com uma inflação nas alturas, em quase 20% em novembro, e com a escassez do dólar, que só pode ser obtido através do mercado paralelo, com preços acima aos oficiais.

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Queda da esquerda

Na Bolívia, a guinada conservadora ocorre após uma sucessão de escândalos econômicos e políticos, incluindo uma tentativa de golpe em junho. É reflexo também do racha interno do Movimento ao Socialismo (MAS), partido que estava no poder desde a eleição de Evo Morales. O MAS foi fundado em 1995, mas com nome de Instrumento Político para a Soberania dos Povos (IPSP).

De pouco em pouco, a sigla foi ganhando espaço nas eleições municipais e nacionais. Foi no início dos anos 2000 que, ao engatar na ascensão política dos movimentos sociais, conseguiu arrematar 35 cadeiras no Parlamento boliviano, encerrando o controle das três grandes forças conservadoras no legislativo: Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR) e Ação Democrática Nacional.

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No pleito municipal de 2004, o partido esquerdista viria a se tornar a “principal força eleitoral com a obtenção de 18,5% do total dos votos e a vitória em 101 dos 327 municípios”, de acordo com a Enciclopédia Latinoamericana. Mas o triunfo mais proeminente ocorreria com a eleição de Evo Morales no ano seguinte, acompanhada da conquista da maioria na Câmara de Deputados e quase a metade do Senado. Reeleito duas vezes, Morales permaneceria no poder até 2019, quando renunciou após protestos por suspeita de fraude eleitoral.

Na época, a contagem de votos foi interrompida por mais de 24 horas. As urnas já estavam 83% apuradas e apontavam um segundo turno entre Morales e seu rival, Carlos Mesa. Quando o processo foi retomado, mostrava uma vitória apertada para o presidente em exercício, o que levou a oposição a acusá-lo de fraudar o resultado. Uma auditoria da Organização dos Estados Americanos (OEA) revelou cédulas adulteradas e assinaturas falsificadas, além de indicar que a vitória de Morales era estatisticamente improvável.

Morales alegou ser alvo de um “golpe civil, político e policial”, mas acabou por renunciar e fugiu para o México e, mais tarde, para a Argentina. O vácuo de poder foi ocupado pela então segunda vice-presidente do Senado, Jeanine Áñez, até eleições em 2020. Ex-ministro da Economia, Luis Arce saiu vencedor do páreo. Seu mandato, contudo, foi marcado por uma progressiva deterioração da economia e pela escassez de dólares e de combustível. No ano passado, o país entrou em recessão. Terreno fértil para o aumento da insatisfação popular.

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Ao mesmo tempo, disputas políticas entre Arce e Morales enfraqueceram o Movimento ao Socialismo. Em maio, Arce desistiu de competir à reeleição e lançou Eduardo del Castillo como candidato. Em paralelo, Morales tentava consolidar a candidatura de Andrônico Rodrigues, que rompeu com o MAS e concorreu sem o apoio oficial da legenda. Resultado: os dois ficaram de fora do segundo turno, disputado pela direita. Paz saiu vencedor  sob a promessa de oferecer “capitalismo para todos”, promover o desenvolvimento econômico e reduzir a polarização.

 

 

 

 

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