Produtores brasileiros de etanol de cana-de-açucar entraram em alerta com a possibilidade de serem arrastados para a negociação do Brasil com os Estados Unidos sobre o tarifaço de Donald Trump.
Informações que circulam nos bastidores diplomáticos em Brasília indicam que, como condição para negociar o tarifaço, os EUA têm pressionado o governo brasileiro a eliminar a alíquota de 18% aplicada à importação de etanol americano.
A medida, se adotada, representaria, segundo produtores do setor, “um golpe direto sobre uma indústria consolidada ao longo de mais de quatro décadas no Brasil”.
O setor do etanol de cana-de-açúcar, impulsionado pelo famoso programa Pró-Álcool, na década de 1970, se consolidou como um dos mais relevantes e inovadores da economia brasileira, como o desenvolvimento da tecnologia flex e a capacidade de descarbonização a partir da mistura do biocombustível na gasolina — recentemente elevado para 30%.
Em 2024, a produção brasileira atingiu 36,8 bilhões de litros, segundo dados da Unica, reforçando o papel do como o segundo maior produtor do biocombustível no mundo, atrás apenas, justamente, dos EUA.
Do outro lado, a indústria do etanol americana lidera historicamente o mercado global do biocombustível a partir de um agressivo subsídio aos produtores locais, incluindo créditos fiscais para produção de SAF e estímulo a matérias-prima como o milho (o chamado modelo Greet).
A eventual abertura irrestrita ao etanol americano — com custos de produção fortemente subsidiados — colocaria em risco a competitividade das usinas nacionais, pressionando margens, comprometendo empregos e desestimulando investimentos planejados para os próximos anos.