Para ofuscar as fofocas e os escândalos que a cercam, Odete Roitman (vivida por Débora Bloch) usou um discurso feminista na coletiva de imprensa da TCA, cercada por jornalistas e fotógrafas mulheres, cena exibida na noite desta quarta-feira, 10, em Vale Tudo, na Globo. No texto dito com a precisão típica da personagem (e de sua excelente atriz), a companhia aérea não era digna de nota quando foi herdada por ela. “Hoje a TCA opera em 80 países e representa o país como líder em transição energética”, disse Odete, orgulhosa de seus feitos administrativos. Em seguida, afirmou que a sociedade não está preparada para mulheres que comandam o mundo. “Mas o patriarcado vai ter que se acostumar”, arrematou, afastando os críticos.
Ao fundo da cena, as secretárias Marieta (Cacá Ottoni) e Consuêlo (Belize Pombal) ironizam o momento. “Essa daí caminhou para que as feministas pudessem correr”, diz a primeira. “De salto, Marieta, pudessem correr de salto”, responde a segunda. A gracinha é essencial para responder a pergunta: seria Odete Roitman um baluarte do feminismo?
Decidir as regras de quem merece ou não a carteirinha do feminismo é não só uma missão inglória como potencialmente equivocada. Odete, porém, faltou a uma aula essencial do movimento. Para além de exigir uma maior participação das mulheres em cargos de poder – e também defender a liberdade sexual feminina (o que Odete, em sua versão loba, desfruta muito bem) –, o feminismo é sobre igualdade de direitos e oportunidades para mulheres e homens. Igualdade é uma palavrinha que falta no vocabulário de dona Odete, uma bilionária com aversão a pobres e pessoas que não se parecem ou se comportam como os brancos europeus que ela respeita. Logo, o feminismo de Odete é para mulheres que, como ela, correm com os lobos, mas de salto alto — e de preferência um de grife francesa.