A aprovação da LDO, em clima de acordo depois da liberação de 65% das emendas parlamentares até meados do ano que vem, trouxe junto uma ambiciosa projeção de inflação: 3,5% em 2026. A pergunta — inevitável — feita aos economistas André Braz (FGV Ibre) e Victor Borges (Manchester Investimentos) foi simples: dá para cumprir? Braz reconhece que a meta é “difícil”, mas não impossível e alerta para riscos de demanda em ano eleitoral. Ele lembra que 2025 surpreendeu positivamente: dezembro pode até registrar inflação negativa, e o ano deve terminar abaixo de 4%, algo impensável há meses, quando o câmbio disparou. Para ele, com a Selic mantida até o início de 2026, não há grande espaço para uma aceleração inflacionária — mas há riscos claros de demanda, especialmente porque o governo em ano eleitoral costuma gastar mais, e a isenção ampliada do Imposto de Renda aumenta a renda disponível das famílias.
Victor Borges, porém, acende outra luz de alerta: o desenho da LDO abre espaço para gastos porque autoriza o governo a operar no piso das metas fiscais, e não no melhor cenário. Isso aumenta a incerteza sobre o impacto inflacionário da execução. Borges reconhece que, com o PIB estável e a inflação convergindo para a meta do CMN, o mercado tem recebido bem o cenário — basta olhar para o fluxo de capitais e para a bolsa em máximas históricas. Mas 2026 será um teste real: tudo dependerá de como as emendas e recursos previstos serão usados em ano eleitoral — e se prefeitos e parlamentares resistirão à tentação de direcionar verbas para gastos de efeito rápido (e inflacionário).
A conclusão dos dois economistas converge para um ponto: a meta de 3,5% não é fantasia, mas exige disciplina em um ano pouco propenso a ela.