Há milênios – desde os tempos de Aristóteles – filósofos entram em debates sobre a origem e o verdadeiro significado da felicidade. Adam Adatto Sandel, 39 anos, ex-professor da Universidade de Harvard e referência no meio filosófico nos Estados Unidos, escreveu Felicidade em Ação (ed. Record), livro que debate o que é necessário para gozar da plenitude. Para ele, existem três pilares da alegria: momento com amigos, contemplação da natureza e apreciar obras de arte. No entanto, o sentimento é comumente sufocado pela a pressão de alcançar essas conquistas, sufocando o sentimento de agir por prazer. “A alegria que alguém sente ao ler um livro, por exemplo, pode facilmente ser substituída pela pressão de simplesmente terminar a leitura, poder dizer que já o leu e riscar mais um item da lista de realizações”, diz à coluna GENTE.
Detentor do recorde mundial do Guinness Book para o maior número de flexões em barra fixa em um minuto, um total de 77, Adatto afirma que focar somente em quebrar novamente o recorde o desanima – nessa mentalidade, o foco é se torna sair vitorioso e não aproveitar o exercício em si. “Espero que esse recorde também seja quebrado, já que a competição se tornou intensa. Bater o recorde é emocionante. Mas às vezes acabo me concentrando demais em quão perto estou de um novo recorde, e isso começa a corroer a alegria que encontro na atividade”, conta.
Em um mundo da instantaneidade, o processo para bater a meta foi esquecido, tirando a graça da conquista. “A realização que deveria trazer uma satisfação duradoura, e talvez até justificar a própria vida, deixa um vazio. O que falta é um senso de significado e propósito ativo em cada momento”, analisa. Outra grande questão é a produtividade como lema, ou seja, ser pressionado para estar em constante movimento cria uma crise de sentido. “Trata-se de uma forma de auto evasão, reforçada pelas recompensas que a sociedade concede àqueles que são produtivos. A razão pela qual ser produtivo se torna uma autoimagem tão poderosa é que isso parece sinalizar virtude”, explica. Segundo o estudioso, a felicidade passou a denotar um estado de saúde há pouco tempo. O resultado? Aos poucos, a sociedade foi esquecendo de celebrar e admirar pequenas conquistas ou momentos.
No entanto, Adatto explica que essa comparação tornaria Sócrates um “preguiçoso”, por ser o filósofo menos produtivo da tradição ocidental, já que se recusava a escrever livros. “Sócrates acreditava que a palavra escrita, justamente por transformar a palavra viva e falada em um produto, a corrompia e lhe tirava a vitalidade”, completa. Para o escritor, a felicidade só se tornará verdadeira quando a sociedade romper com a busca orientada por metas que rouba a alegria da vida.