“Os Estados Unidos e o Brasil têm questões comerciais legítimas que devem ser discutidas e negociadas. No entanto, a ameaça tarifária do seu governo claramente não é direcionada a isso”, diz o documento. “Em vez disso – como você afirma explicitamente em sua carta ao presidente brasileiro Lula da Silva – a ameaça de impor tarifas de 50% sobre todas as importações do Brasil e a ordem do Representante Comercial dos EUA para iniciar uma investigação nos termos da Seção 301 da Lei de Comércio de 1974 visam principalmente forçar o sistema judiciário independente do Brasil a suspender o processo contra o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro”.

Os senadores da oposição afirmam ainda que “interferir no sistema jurídico de outra nação soberana cria um precedente perigoso, provoca uma guerra comercial desnecessária e coloca cidadãos e empresas americanas em risco de retaliação”. “Usar todo o peso da economia americana para interferir nesses procedimentos em nome de um amigo é um grave abuso de poder, mina a influência dos Estados Unidos no Brasil e pode prejudicar nossos interesses mais amplos na região”.
O documento é assinado por Tim Kaine, Jeanne Shaheen, Adam B. Schiff, Richard J. Durbin, Peter Welch, Kirsten Gillibrand, Mark R. Warner, Catherine Cortez Masto, Michael F. Bennet, Jacky Rosen e Raphael Warnock.
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No início do mês, Trump publicou na sua rede social Truth Social uma carta endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em que anunciava a aplicação de uma tarifa de 50% sobre a importação de todos os produtos brasileiros pelos Estados Unidos a partir do dia 1º de agosto. No texto, Trump afirmava que o julgamento de Bolsonaro não deveria estar acontecendo e que o Brasil ataca “eleições livres” e viola a “liberdade de expressão”.
Em semanas seguintes, Trump voltou a reforçar críticas à Justiça brasileira e um suposto “regime de censura” — — todas foram prontamente criticadas por Lula, que reforçou que “a defesa da democracia no Brasil é um tema que compete aos brasileiros” e que “ninguém está acima da lei”.
Bolsonaro está inelegível por 8 anos, por duas condenações no Tribunal Superior Eleitoral, por abuso de poder e uso indevido de meios de comunicação, ao atacar as urnas eletrônicas durante a eleição de 2022, sem provas concretas.
Em paralelo, em março, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal tornou por unanimidade o ex-presidente e mais sete aliados réus por tentativa de golpe em 2022, aceitando denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República. Ele também responde pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado pela violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado.
Desde a última sexta, 19, Bolsonaro está usando tornozeleira eletrônica, por ordem de Moraes, por ter dado indícios de que, com a crise do tarifaço, poderia fugir do Brasil. O ex-presidente não pode sair de casa de noite nem aos finais de semana e feriados, tampouco se comunicar com outros investigados — incluindo seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). A proibição é extensiva para o uso de redes sociais.