O Senado dos Estados Unidos deu um passo para encerrar o shutdown do governo federal, que já dura 40 dias, o mais longo da história do país.
Por 60 votos a 40, os senadores aprovaram uma etapa processual que abre caminho para a votação final de um pacote de gastos que reabriria o governo. Pela regra, há agora até 30 horas para debates antes do voto final, que precisa de maioria simples.
O texto que avançou é uma combinação de dois movimentos: uma autorização provisória de gastos até janeiro de 2026 e mais três projetos do orçamento anual. Em outras palavras, é um acordo para ganhar tempo. Mas esse acordo está longe de ser um consenso.
Para democratas, o calcanhar de Aquiles está no seguro-saúde. O texto que avançou não inclui a extensão dos subsídios expandidos da ACA, criados durante a pandemia e que, nos últimos três anos, ajudaram a levar a cobertura de saúde a recordes históricos. Democratas querem pelo menos uma garantia formal de que haverá uma votação futura sobre o tema. Para republicanos trumpistas, trata-se de uma linha vermelha: eles veem na reversão desses subsídios um passo simbólico para “desfazer o Obamacare”.
Há outro ponto sensível: democratas querem reintegrar servidores públicos que foram demitidos na gestão Trump, especialmente em áreas de pesquisa, meio ambiente e agricultura. Republicanos vêm resistindo.
E mesmo depois desta votação, o caminho ainda é longo. Se o Senado passar o texto final, ele volta para a Câmara dos Representantes para nova aprovação. E só então o projeto segue para a mesa do presidente Donald Trump, que terá que sancionar. Essa sequência pode levar mais alguns dias.
Enquanto isso, os efeitos do shutdown escalam. Programas de nutrição para mães e crianças de baixa renda estão com repasses atrasados. Parques nacionais funcionam sem manutenção adequada. E a administração da aviação civil já admite que a falta de controladores de voo começa a provocar gargalos, algo especialmente arriscado em um período em que milhões de americanos viajam pelo país durante o feriado de Ação de Graças.
A mensagem embutida neste acordo é clara: Washington está tentando resolver o problema mínimo urgente, evitar um colapso logístico às vésperas de um dos períodos de maior deslocamento no país, para então discutir o resto depois.
O governo deve reabrir nas próximas semanas. Mas o conflito político que produziu a paralisação, continuará lá. Nos EUA de hoje, encerrar um shutdown não significa resolver o problema. Significa apenas empurrá-lo alguns meses adiante.