O vice-secretário do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Christopher Landau, afirmou neste sábado, 9, que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), “usurpou poderes” no Brasil ao “ameaçar líderes de outros poderes ou suas famílias” com detenção, prisão ou outras penalidades.
Landau, que ocupa o cargo de número dois da diplomacia americana, não citou nominalmente Moraes, mas enfatizou a atuação de “um único ministro do STF” para “destruir a relação histórica de proximidade entre Brasil e os Estados Unidos” ao, entre outros pontos, “aplicar extraterritorialmente a lei brasileira para silenciar indivíduos e empresas em solo americano”.
Na última semana, o governo americano aplicou a Lei Magnitsky contra o magistrado, afirmando que Moraes faz uma “caça às bruxas ilegal contra cidadãos e empresas americanas e brasileiras”.
No comunicado divulgado neste sábado, Landau afirma que a situação é “sem precedentes e anômala” e que o cenário é de um “beco sem saída”.
“Sempre é possível negociar com líderes dos poderes Executivos ou Legislativos de um país, mas não com um juiz, que deve manter a aparência de que todas as suas ações são ditadas pela lei. Assim, nos encontramos em um beco sem saída, o usurpador se reveste do Estado de Direito, enquanto os demais poderes afirmam estar impotentes para reagir”, declarou, enfatizando que os Estados Unidos desejam “restaurar a amizade histórica com a grande nação do Brasil!”.
Governo Lula: declaração é ‘novo ataque à soberania brasileira’
Questionado por VEJA, o governo Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, por meio do Ministério das Relações Exteriores, que rechaça as “reiteradas ingerências” do governo americano em assuntos internos do Brasil e que a manifestação deste sábado é um “novo ataque frontal à soberania brasileira”.
“O Governo brasileiro manifestou ontem à embaixada dos Estados Unidos seu absoluto rechaço às reiteradas ingerências do governo norte-americano em assuntos internos do Brasil, e voltará a fazê-lo sempre que for atacado com falsidades como as da postagem de hoje, disseminadas pelo subsecretário de Estado, Christopher Landau. Essa manifestação caracteriza novo ataque frontal à soberania brasileira e a uma democracia que recentemente derrotou uma tentativa de golpe de Estado e não se curvará a pressões, venham de onde vierem
Ministério das Relações Exteriores”
A ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, classificou a publicação do subsecretário como “arrogante”, além de uma “gravíssima ofensa ao Brasil, ao STF e à verdade”.
“Quem tentou usurpar o poder em nosso país foi Jair Bolsonaro. Quem está tentando destruir a relação histórica entre os dois países é a família Bolsonaro estimulando Donald Trump, com o tarifaço e sua chantagem contra o Judiciário brasileiro”, publicou Gleisi.
“Situação anômala é a de foragidos da Justiça brasileira e plataformas que atuam em nosso território se associarem para descumprir a lei e as decisões judiciais de nosso país. Nenhum poder constitucional brasileiro encontra-se impotente”, prosseguiu a ministra, enfatizando que, caso os Estados Unidos desejam “restaurar uma amizade histórica”, devem começar “por respeitar a soberania do Brasil”, das “leis e da Justiça”.
A postagem arrogante do subsecretário de Estado dos EUA é uma gravíssima ofensa ao Brasil, ao STF e à verdade. Quem tentou usurpar o poder em nosso país foi Jair Bolsonaro. Quem está tentando destruir a relação histórica entre os dois países é a família Bolsonaro estimulando…
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) August 9, 2025
Reação
A declaração do subsecretário de Estado americano foi divulgada um dia após o Itamaraty ter chamado o encarregado de negócios dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, para expressar “indignação” em relação a falas do governo americano e sua representação no país por meio das redes sociais.
Escobar foi recebido pelo embaixador Flavio Goldman, que coordena interinamente a Secretaria de Europa e América do Norte no Ministério das Relações Exteriores.
Como foi reiterado pelo Itamaraty na noite deste sábado, 9, o Departamento de Estado e a Embaixada americana em Brasília fizeram publicações com “clara ingerência” em assuntos internos do Brasil.
Após a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro, ambos os perfis das representações americanos fizeram publicações nas quais acusam Alexandre de Moraes de praticar “flagrantes violações de direitos humanos”.
“O ministro Moraes é o principal arquiteto da censura e perseguição contra Bolsonaro e seus apoiadores. Suas flagrantes violações de direitos humanos resultaram em sanções pela Lei Magnitsky, determinadas pelo presidente Trump”, afirma o texto da publicação.