Com uma carreira consolidada no humor, Marco Luque, 51 anos, decidiu aceitar um novo desafio: assumir o comando de um reality show. O humorista é o apresentador da terceira temporada do Pedreiro Top Brasil, que estreou no último sábado, 18, na TV Band – emissora que o projetou nacionalmente. Luque conversou com a coluna GENTE sobre o novo trabalho, relembrou os tempos na bancada do CQC, comentou sua passagem pela Globo e opinou sobre a polêmica envolvendo os limites do humor.
Como surgiu o convite para apresentar um reality? Pela minha agente, que me contou que o canal estava procurando um apresentador. Curti a ideia e topei na hora. Sempre fui muito bem recebido na Band, desde a época do CQC. E gosto dessa interação com o público. Acho que eles queriam alguém que passasse credibilidade, mas com leveza e bom humor. Foi um casamento perfeito.
Qual a diferença entre apresentar um programa de TV e fazer stand-up? É completamente diferente. Na TV cada segundo conta; tem teleprompter, texto, e o ritmo precisa ser ágil para prender o espectador, que está ali com o controle na mão. Já o stand-up é outra vibe: a gente controla o tempo, dá pra respirar e improvisar.
Como o humor entra nesse novo projeto? O humor é necessário. A vida é cheia de perrengues na saúde, família, trabalho… A risada acaba sendo um soro e cura. Acho que foi um encontro perfeito. Foram nove diárias intensas e emocionantes. De 50 mil inscritos, sobraram dez pedreiros: oito homens e duas mulheres. A gente acaba se envolvendo, torcendo, conhecendo a história de cada um.
Você é daqueles que põem a mão na massa em casa? Sou. Eu e minha mulher já fizemos uma parede de cimento queimado e ficou linda. A gente gosta de cuidar de jardim também. A Jéssica tem furadeira, parafusadeira, caixa de ferramenta… Eu também sou artista plástico e adoro mexer com tinta. É uma delícia e faz muito bem cuidar da casa.
Aprendeu alguma coisa nas gravações do reality? Muito. Acompanhei provas de bater laje, fazer escada, acabamento de espaço gourmet… Vi que dá para levantar uma laje rapidinho (risos). Conheci pedreiros incríveis, que me deram dicas. Foi muito útil. Estou com uma obra em casa que atrasou um ano, e o programa veio justamente nessa hora.
E já pensou em criar um personagem inspirado nesses pedreiros? Impossível não pensar (risos). Pedreiro é um prato cheio, te dá um cardápio de ideias. Não posso falar muito, mas tem surpresa vindo por aí.
Você está de volta à Band, onde começou no CQC. O que o programa significou pra você? Foi um divisor de águas na minha carreira. A gente ficou famoso como ator de novela. O programa mudou meu olhar sobre política e acho que inspirou muita gente jovem a se interessar mais pelo assunto. Antes, política era chata, inacessível. Com muito humor, mostramos o que acontece no Palácio do Planalto, que é a nossa casa e não a deles.
Você ainda mantém relação com o pessoal? O Felipe Andreoli é meu compadre, fui padrinho do casamento dele, e ele do meu. De lá, tenho uma relação boa também com o Marcelo Tas, Maurício Meirelles… Às vezes, troco uma ideia com o Rafinha Bastos e com o Rafael Cortez. A gente tem um grupo no WhatsApp com toda a equipe do programa. Se divulgassem o que sai de lá seria cancelamento atrás de cancelamento.
Você acredita que o CQC influenciou uma geração? Com certeza. Antes, a gente não tinha acesso a nada, político não era preso, não tinha essa transparência. A internet ajudou a expor o que estava acontecendo, e o CQC veio bem nessa virada.
Teria vontade de fazer algo parecido hoje? Não diria “não”. Foi uma experiência muito rica. Lógico que hoje o cenário está mais polarizado, e isso complica um pouco. O país está dividido: metade ama, metade odeia. Essa tensão é prejudicial a todos.
O tema sobre limites do humor ficou em alta nos últimos meses. Qual é o seu ponto de vista sobre esse assunto? Cada um encontra o seu limite. O meu estilo de humor é mais “bobão”, não gosto de ofender, e não é tão ácido. Mas existem outros tipos, e tudo bem pois tem espaço para todo mundo. O limite é pessoal. Quando uma piada começa a me trazer problema, cancelamento, processo… Ali vejo o meu limite. Acho que o público escolhe o que consumir. Se não gosta, não assiste. É ruim ter censura, vai pelo bom senso.
Você também teve uma passagem pela Globo. Como foi essa experiência? O Serginho Groisman me ligou no mesmo dia em que o fim do CQC foi anunciado. Dois meses depois, eu já estava no Altas Horas. O Serginho é meu padrinho na Globo, um cara incrível. Fiquei seis anos lá, pude levar meus personagens — o que é raro na emissora. Fiz também uma série com o Miguel Falabella e participei da nova Escolinha do Professor Raimundo. Aproveitei muito. A pandemia veio e mudou o modelo de contratos, e nesta fase me afastaram. Mas guardo ótimas lembranças. A Globo é uma escola.