Em junho o Movimento Brasil Livre (MBL) superou os mais de meio milhão de apoiamentos necessários para fundar seu próprio partido político, a Missão. Hoje chefiado pelo empresário Renan Santos, que deve presidir a nova sigla, o movimento nascido nas ruas se profissionalizou na última década, elegeu parlamentares, apoiou e se divorciou de Jair Bolsonaro e quer lançar seu próprio candidato a presidente da República ano que vem. Em entrevista a VEJA, Santos diz que a Missão não “fará o jogo” dos demais e que a maioria das siglas não tem identidade própria — o que justifica a criação do 30º partido brasileiro.
Leia a entrevista a seguir.
Você acha que o Brasil realmente precisa ter mais um partido? O Brasil tem pouquíssimos partidos. Países livres têm muitos partidos – partidos regionais, partidos com uma causa específica. Criar dificuldade para que as pessoas se organizem e elejam representantes é uma estupidez pouco democrática. Nós temos 29 partidos nacionais. Quantos são partidos e quantos são legendas? Por mais que eu seja adversário do PT, eu considero o PT um partido. Agora, o PP, União Brasil e PL não são partidos, são legendas. Eles não têm posicionamento, não têm programa, não têm formação de base, não têm causa. Nessa lógica, o Brasil tem pouquíssimos partidos.
As siglas têm feito um momento de se agremiar em federações. A criação da Missão não vai na contramão disso? Esse movimento (das grandes siglas) é um movimento oligárquico, de imbecis parasitários que habitam esses partidos, analfabetos funcionais, coronéis do Nordeste, gente retardada que só rouba. Eles se juntam em uma federação para comprar voto no Nordeste e terem tempo de TV para negociar. É óbvio que renegamos isso. Nosso partido é para enfrentar esses caras.
A Missão ele tem chance de concorrer já em 2026? Está nos planos de vocês lançar candidatos? Sim, para todas as posições.
Isso inclui presidente da República? Quem seria o pré-candidato de vocês? Sim. Estamos conversando com uma pessoa. Ele não é da Missão, mas já divulgou, participou de lives conosco. É o apresentador Danilo Gentili. Outro que vem sendo sondado internamente sou eu. Eu realmente não esperava isso. Vamos conversar, mas com certeza teremos candidato a presidente.
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Ao que tudo indica, a direita irá fragmentada para as eleições de 2026. Por que vocês acreditam que a Missão vai conquistar esse eleitor com tantas opções? Porque não entramos no jogo da chamada “direita”, que é viciado. São um bando de idiotas que puxam o saco do Bolsonaro. Pessoas que ficam puxando o saco de um político que eles sabem que é ladrão e corrupto. Por exemplo, o Caiado. Ele é médico, sabe o que o Bolsonaro fez na pandemia, mas finge para não perder o eleitorado bolsonarista em Goiânia. A mesma coisa o Ciro Nogueira, que é aliado do Bolsonaro, mas sempre foi aliado do PT. Tarcísio está usando o nome de Bolsonaro para levar o eleitorado dele. Nós temos asco do Bolsonaro. Ele não tem condição de liderar nada. Vamos ter uma candidatura própria que geracional. Somos parte de geração em que Bolsonaro nunca foi bem avaliado e que o vê como um problema.
Se vocês forem eleitos, como farão para manter a governabilidade? Farão alianças com outros partidos? Se, na hora de formar maioria, precisarmos ceder nosso programa de modo que ele se torne irreconhecível, igual a todos os outros, não faz sentido estarmos no governo. Isso é se tornar centrão. Um partido que quiser fazer parte da gestão conosco vai ter que aderir ao nosso programa, ou pode colaborar com partes do nosso programa, com elementos programáticos por parte dele. O ponto é que os partidos do centro não querem colaborar com nada, querem ocupar espaço para colocar gente deles. Isso nós não vamos fazer.
O MBL já atravessou algumas polêmicas. Teve a situação do ex-deputado Arthur do Val e o senhor já foi denunciado por lavagem de dinehro. O senhor acha que isso pode comprometer a Missão? Não. O Artur mandou um áudio que um homem comum mandaria. As pessoas que o julgaram fazem coisas muito piores no privado. Arthur nunca roubou, foi um parlamentar exemplar. E eu fui alvo de perseguição política do próprio Bolsonaro ali. O próprio promotor de Justiça foi repreendido pelo Judiciário, por fazer perseguição política. Essas situações servem para orgulhar o time. Arthur estava sofrendo um cancelamento e foi protegido. Eu e minha família resistimos a uma perseguição política. Isso é motivo de orgulho nosso, não tenho vergonha nenhuma.
Você tem medo que esse movimento de profissionalização do MBL possa descaracterizar o movimento? Esse é o dilema de qualquer instituição que cresce. Todo partido, uma instituição, um movimento, grupo, banda, o movimento artístico, cultural, tende a se engessar e se tornar burocracia. Toda revolução se torna uma burocracia e a burocracia costuma engolir a revolução por dentro. Por isso o controle das operações tem que ser feito com pessoas com perfil quase artístico. As pessoas estão no papel de comando precisam de um caráter criador. É um processo que se altera o tempo todo. O dia que eu virar um burocrata, acabou. Por favor, me matem, me expulsem. Por isso, criamos um movimento cultural, mudamos a linha do nosso congresso para misturá-lo a um festival. Precisamos de uma linha de ação provocativa, para não perdermos o caráter criativo.