A disparada dos gastos militares em todo o mundo acentua o grau de incerteza na economia e faz a festa, é claro, da indústria militar. Na semana passada, a maior companhia global de Defesa com sede fora dos Estados Unidos – são americanas as cinco primeiras do ranking –, a BAE Systems anunciou, no Reino Unido, resultados bilionários com recorde de vendas. A empresa tem presença centenária no Brasil, é a fabricante de todos os radares, sem exceção, em uso pelas Forças Armadas, mas o volume dos contratos governamentais é baixo frente aos investimentos internacionais em equipamentos e serviços da companhia. Com negócios em 40 países e 110.000 empregados diretos ao redor do globo, a BAE demonstrou um lucro de 13,2 bilhões de libras no primeiro semestre deste ano, com alta projetada para este ano de 11% nos pedidos de equipamentos de guerra.
À Veja Negócios, o Diretor-Geral Regional para as Américas da BAE Systems, John Stocker, adiantou que a BAE pretende construir para o Exército o blindado CV90 no Brasil e ofereceu os serviços da companhia à Aeronáutica. “Se a Força Aérea estiver interessada em sistemas aéreos não tripulados (drones) ou até mesmo em capacidades aéreas de combate de sexta geração, teremos o maior prazer em conversar sobre isso.” Acompanhe a entrevista a seguir:
Veja Negócios – A exemplo do que ocorreu recentemente na Otan, os orçamentos dos países em Defesa estão em crescimento. De que maneira a BAE Systems aproveita esse momento para aumentar a colocação de seus produtos no mercado global?
John Stocker – Para ser bem-sucedida, qualquer empresa precisa atender às exigências de seus clientes. Com a mudança das circunstâncias geopolíticas, estamos vendo as nações de nossos clientes reavaliarem sua abordagem de defesa e isso levou a novos pedidos de nossos produtos e serviços, aos quais estamos respondendo. Estamos investindo em nosso pessoal, processos e instalações para garantir que possamos atender a essa demanda.
– Como estão os negócios da BAE Systems com o Brasil, quais contratos estão em andamento e o que está sendo discutido sobre a continuação da parceria?
– Temos um histórico de parceria com o Brasil que remonta a mais de 100 anos. O objetivo da nossa equipe no Brasil e da empresa como um todo é ajudar a nação a aprimorar sua defesa e aumentar sua economia. Trabalhamos com as principais empresas brasileiras, como a Embraer no avião C-390 e a Emgepron em munição. Também somos um investidor e parceiro tecnológico no futuro projeto de mobilidade aérea urbana da Eve, da Embraer.
Como uma empresa global, estamos sempre em busca de parceiros adicionais em mercados importantes e o Brasil certamente se encaixa nessa descrição. Nosso objetivo é fazer mais pelo Brasil, no Brasil. Isso significa firmar parceria com empresas locais e possibilitar mais exportações do Brasil para outros países também. Hoje temos orgulho do fato de que o principal navio da Marinha do Brasil, o navio NAM Atlântico, foi construído pela BAE Systems, assim como os navios da classe Amazonas. Continuamos a dar suporte a essas embarcações em serviço. O Exército Brasileiro também utiliza nossos veículos M113 atualizados e obuseiros M109. O Corpo de Fuzileiros Navais do Brasil opera nossos veículos anfíbios de assalto.
– Quais são as perspectivas de negócios com a Aeronáutica?
– Fornecemos várias aeronaves para a Força Aérea Brasileira ao longo dos anos e estamos ansiosos para apoiá-la novamente no futuro, sempre que pudermos ser úteis. Olhando para o futuro, vemos oportunidades de fazer mais com a Marinha para atender às suas necessidades futuras, como navios adicionais, suporte em serviço e atualizações de radar.
– E com o Exército?
– Há potencial para mais trabalho com o Exército em capacidades adicionais de artilharia leve e em futuros veículos de combate de infantaria e tanques leves, e para estes acreditamos que o nosso CV90 é uma opção muito boa. Se formos selecionados no processo de escolha que está em andamento, planejamos construir esses veículos no Brasil para aumentar ainda mais nossas parcerias industriais.
Para efeito de comparação, a República Tcheca e a Eslováquia encomendaram o carro CV90 com esse regime de parceria, no qual a indústria local desempenhará um papel crucial, e o primeiro desses veículos deve começar a ser entregue no final deste ano. O CV90 também pode ser uma opção para os fuzileiros navais brasileiros. Também pensando em futuro, se a Força Aérea estiver interessada em sistemas aéreos não tripulados ou até mesmo em capacidades aéreas de combate de sexta geração, teremos o maior prazer em conversar sobre isso.
– Quais produtos fabricados pela companhia podem ser destacados como os mais solicitados hoje pelos clientes? Quais têm sido as novidades em equipamentos apresentadas pela BAE ao mercado global?
– Como uma empresa global que trabalha em todos os domínios de defesa, terra, mar, ar e espaço, vemos o interesse dos clientes em submarinos, satélites e outras opções intermediárias. Na América Latina, há muito interesse em navios de guerra e sistemas embarcados, como radar, armas navais e sistemas de gerenciamento de combate, bem como veículos terrestres e artilharia. Devido às circunstâncias geopolíticas, os requisitos de nossos clientes podem mudar. Assim, por exemplo, na Europa, o interesse agora é grande em áreas como artilharia e munição, veículos terrestres, navios de guerra e sistemas aéreos não tripulados – tanto os sistemas em si quanto o combate a eles. Em todas as regiões, nossos recursos de guerra eletrônica e aeronaves, tanto o Eurofighter Typhoon quanto nosso trabalho no F-35 atual, bem como nossa futura participação no Global Combat Air System, além de espaço, segurança cibernética, treinamento e suporte em todos os domínios e plataformas são prioridades para nossos clientes.