O salvadorenho Kilmar Abrego García foi libertado na quinta-feira 11, após decisão de uma juíza dos Estados Unidos, que emitiu uma ordem de restrição temporária impedindo sua detenção pelo ICE, a polícia de imigração americana. García compareceu à sua audiência de controle migratório sem ser preso e permanecerá em liberdade enquanto o caso segue em tramitação judicial.
O episódio é parte de uma sequência de erros administrativos e processos controversos ligados à ofensiva anti-imigração do governo Trump. Em março, ele foi detido pelo ICE enquanto dirigia com seu filho em Maryland e deportado para El Salvador três dias depois, mesmo possuindo uma proteção legal vigente que impedia sua remoção.
Um juiz já havia reconhecido que García corria risco de vida caso retornasse a El Salvador e concedeu a ele o status de “retenção de remoção” — proteção que lhe permitia viver e trabalhar nos EUA, embora sem direito à residência permanente. Apesar disso, a deportação de 2025 ocorreu de forma sumária e sem respaldo jurídico. A defesa afirma que García nunca teve problemas com a Justiça após a concessão do status, mantendo apenas os contatos obrigatórios com o ICE.
García havia fugido de El Salvador aos 16 anos após ameaças de uma das gangues mais poderosas do país, a Barrio 18. Em 2016, conheceu Jennifer Stefania Vasquez Sura, cidadã americana, com quem se casou três anos depois. Os dois tiveram um filho, nascido nos EUA, e juntos também criaram dois filhos de Jennifer de um relacionamento anterior, ambos com deficiência.
Em 2019, García foi detido em um estacionamento enquanto procurava trabalho como diarista. Na época, ele foi acusado de ser membro da gangue rival da Barrio 18, a MS-13, mas a alegação não foi comprovada e ele não chegou a ser indiciado por nenhum crime.
Após a deportação no início deste ano, García foi enviado ao Centro de Confinamento para Terroristas (Cecot), a megaprisão que é joia da coroa da máquina de repressão a gangues do governo Nayib Bukele, em El Salvador, onde, segundo relatos da defesa, foi torturado. A pressão internacional e o reconhecimento do erro administrativo resultaram em seu retorno aos Estados Unidos em junho de 2025. No entanto, três meses depois, foi novamente detido pelo ICE.
“Hoje me apresento com a cabeça erguida e continuarei lutando contra todas as injustiças cometidas por este governo”, afirmou García a apoiadores em Baltimore após ser libertado novamente na quinta-feira 11. Seu advogado, Simon Sandoval-Moshenberg, destacou que a decisão judicial representa “uma vitória do direito sobre o poder”, mas alertou que a batalha legal ainda não terminou.
García e sua família vivem em Maryland, onde ele trabalha como operário metalúrgico. Sua história se tornou símbolo das falhas do sistema americano no tratamento a imigrantes protegidos pela lei.
O governo dos Estados Unidos já anunciou que pretende recorrer da decisão da juíza, sinalizando que a disputa judicial continuará. Enquanto isso, porém, o salvadorenho permanece em liberdade, cercado pela família que construiu em solo americano.